Tuesday, December 29, 2009

Respire fundo


Entendo agora o que eu vim fazer aqui do outro lado "do outro lado" do mundo, sim, é onde eu estou... em Perth... isolada da civilização, definitivamente.
Perth 'e uma "cidade grande". Para o meio de lugar nenhum é realmente grande! O centro da cidade tem três ruas principais e fica a quinze minutos da minha casa (o que nunca aconteceu antes...digo, eu morar perto do centro de alguma coisa).
Fora isso, faz um calor horrendo de noite que combina muito bem com os barulhos da porta do meu quarto no meio da madrugada, aqueles que fazem qualquer ser humano querer ficar bem acordadinho para ter certeza de que nao abriram a porta do inferno enquanto você cochilava.
De resto, as pessoas são muito legais, são tão gentis que quem vem de um lugar onde generosidade custa um favor aqui e outro ali que nem eu, fica achando que deve ter alguma coisa errada com a água do lugar.
Mas isso é normal para eles... se ajudar, receber bem as pessoas novas, amar cuidar do jardim, que é minha mais recente descoberta: a casa que eu moro tem um jardim simpático com uma parreira, três tinas com pés de limão siciliano, quatro ficus podados e um gramado semi esturricado pela estação, onde o James, meu flatmate, e os amigos dele tomam cerveja até cair a cada dois ou tres dias. Debaixo da parreira fica a mesa onde fazemos a maior parte das refeições e de onde eu tenho meus melhores momentos de ócio criativo ou nem tanto.
Acho que faz muito tempo que não sabia o que era curtir uma casa... aproveitar a luz que entra no quatro para escrever, desenhar, colocar as idéias no lugar.


Eu achava que trabalhar no Guillaume tinha feito um bom estrago nos meus pés e em outras partes do meu corpo que não voltaram pro lugar, no entanto, não tinha percebido nada até o João falar no meu picnic de despedida " nessa idústria (hospitality) é muito fácil você perder a paixão quando não está no ambiente certo, é muito rápido (e estalou os dedos) para você se perder".
E foi exatamente o que tinha acontecido comigo. Eu tinha perdido a paixão. Não tinha percebido que eu tinha perdido a fé no meu trabalho, pior, perdido a confiança em mim mesma, tanto que estava a ponto de jogar tudo para o alto e voltar a ser RP... (que vamos combinar...putz melhor morrer de catapora!). Estava tão sem confiança que um emprego de vendedora de enciclopédia era minha mais nova meta de vida.

Acabei indo para o Brasil para passar boa parte das minhas férias na cozinha da minha mãe. Estranhamente, as grandes transformações culinárias da minha vida acontecem naquela cozinha, esparramadas na pia de granito (que mal sabe ela, é ideal para arte em chocolate!) e naquela mesa de 50 mil anos e tampo de vidro que eu e minha irmã provavelmente vamos nos estapear se um dia ela virar herança.
Durante duas semanas eu me muni do amor pela minha família e principalmente pela força do grande momento da vida da minha única irmã, para dar a ela o meu presente! Para entregar, não um eletrodoméstico embrulhado, mas sim o presente de ser presente como companheira do grande acontecimento da vida dela: o casamento!
E Deus, como ótimo empreiteiro que é, magnanimamente, incansavelmente, pacientemente se encarregou de me mostrar que existe um lugar no mundo para mim que é dentro de mim mesma e pode montar acampamento em qualquer parte do mundo.
Quando meu tempo lá estava para terminar, mais uma etapa começou.
Entao, subi num aviao para encarar o patisserie lounge do Azure. E foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Encarei o trabalho como um oportunidade de voltar a andar e eu caminhei(com as minhas proprias pernas). Este foi meu presente de Natal.
Acho que isso vale para qualquer pessoa... esse tipo de lembrete sutil de que é muito fácil perder o gosto pelas coisas se a gente não está no lugar certo. Mas seja qual for o caso, nenhum dinheiro, status ou quiz de tabuleiro vale a sensação de estar em paz com o mundo e o mundo em paz com você. Quando existe paz então, é batata! É como se os quatro dias que levam para fazer marron glace passassem num instante e você está pronto pra descascar as castanhas de novo!

Quando a gente olha as coisas de fora, muito do que a gente empurrava com a barriga por não saber como sair fica fácil de resolver e ai, vem aquela vontade mor de se chutar porque " como foi que eu deixei isso tomar conta de mim? como foi que eu arrastei isso por tanto tempo??? Por causa de uma geladeira?" ... qualquer que seja o eletrodoméstico da sua preferência, ele nao vale a sensaçao impagável de chegar em casa, chutar os sapatos pro lado e fazer o que der na telha.

Olhar de fora é tão bom... é o melhor lugar para assistir a novela das oito que é a nossa vida... é quando a gente diz "meu!!!!!!!!!! como você não enxerga que ela só se casou com você por dinheiro e que quem gosta mesmo de você é filha da Odete que limpou o seus sapatos com as lágrimas de um esquilo????" - "que burro!"

E essa clareza ajuda a tomar decisões importantes no melhor estilo break through, aquelas que vc decide dar o tiro de misericórdia e terminar um namoro que já azedou ou dar uma chance para alguém que não é bem seu tipo.
A vida tem é urgência que a gente aprenda as lições a tempo de viver as novas experiências de amanhã. Ela sempre dá um jeito de fazer o novo chegar. É preciso entender que o bom de viver é estar vivo!

A minha experiência me diz que o maior presente que a gente pode dar para o mundo é a resolução de si mesmo.

Minha prece é que esse clima de resolução alcance mais pessoas. Que existam mais finais felizes e de boa ventura para o que está por vir. Que exista vontade e que aquilo que está perdido encontre seu lugar no mundo. A gente tem sorte!... só de respirar já estamos ganhando!Vambora crescer porque nenhuma confusão dura pra sempre!

Respire fundo porque esse sopro é fortuna disfarçada de oportunidade.

Wednesday, December 9, 2009


Estou ilhada num mar de roupas... preciso parar um segundo.
Não acredito que vou mudar de novo. E dessa vez, nao vou carregar mobília, nem um milhão de malas, só uma. Estranhamente, sei exatamente o que tenho que levar e mais estranhamente, não estou indo para a rua de baixo, não estou indo para nenhum lugar familiar.
Tudo é novo de novo. Há dois anos, larguei tudo para uma vida nova e agora, me vejo fazendo tudo isso outra vez.
Resolver mudar foi um ato de coragem, talvez mais coragem do que da primeira vez, porque da primeira vez, eu estava querendo salvar a minha vida e não iria negociar minha integridade física, minha sanidade. Mas dessa vez, é diferente. Não houve sofrimento, nem dor, nem desespero. Dessa vez, existem relacionamentos que foram construídos e beijos e abraços e amigos e conhecimento que precisa caminhar.
Como se a vida me olhasse de frente e dissesse "estou te dando de presente uma nova aventura. Não se trata de uma nova chance, de um recomeço, mas de uma continuidade que é parte daquilo que você escolheu se tornar".


Estou ilhada... num mar de roupas, de cores de apelos. E por mais que eu saiba e sinta que tudo está bem... uma nostalgia me bate à porta. Preguiçosa, aquela que nao quer fazer nada, ouvir nada, pensar nada... que estar ali, esparramada em sentimento, em um contentamento insatisfeito dos voláteis câmbios dos impressionáveis e impulsivos.

E quando fecha os olhos esta célula de consciência explode em euforia. Euforia do novo, do calor do desconhecido que provoca calafrios. Dos rostos, da paixão por um ofício, do novo amor distante, agora mais longe, mais perplexo e que não pode declarar-se porque tanta coisa está na frente, tanta vida para ser vivida e resta uma angústia que pede que a vida dê uma chance para que o impossível e o improvável se encontrem no alto de uma montanha para ver o nascer do sol.

Ali do alto, nós que viajamos pelo mundo, que vivemos o que muitos apenas ousaram ler a respeito, também nos entregamos, para nós existe também cansaço e conflito. Existem próximas viagens, porque nunca estamos convencidos. A vida é curta e está em todo lugar num planeta tão antigo como esse e que vivemos.

Um truque do ego ou do destino... o que seria do ser humano sem conflito?

De volta ao meu mar de roupas... me ajuda com isso, por favor?

Monday, November 2, 2009

Um bolo de lã, galhos secos, pedaços de telhado, insônia, um morto, angústia e o FDP que cantou a madrugada inteira a mesma música




Dormi muuuuuuuito mal essa noite!

Hold on... but don't hold too tight... Let go you're gonna be alright, don't run away from what you're heart is saying... toda vez que essa música toca no meu playlist eu pulo... porque a gravaçao é muito alta e parece que eu liguei um alto-falante dentro da minha cabeça. Mas hoje, quando vim aqui escrever já estava tocando e lembrei o pq de ter colocado essa música na minha playlist... para dias em que me falta ânimo.

Esta semana fiquei praticamente me arrastando pelo apartamento, da sala para a cozinha, da cozinha para o quarto, do quarto para o banheiro, do banheiro para a sacada... esperar por alguém é um pé no saco... quem foi o estúpido poeta morto que escreveu sobre esperar eternamente por uma resposta, uma pessoa, qualquer coisa???? Ele obviamente devia ter inclinações masoquistas (que gosta de sofrer)- eu por minha parte estou com inclinações sadísticas (que gosta de bater) direcionadas à poesia da espera.

E antes que me perguntem, não, não estou apaixonada... estou só levemente obcecada pelo fato de que já faz uma semana que não tenho notícias do meu empregador com detalhes do meu emprego... pronto, eu disse... saiu...

E enquanto isso, o tempo está passando e continuo na espera. Já coloquei na cabeça que se tudo, absolutamente tudo der errado, faço as malas e volto para o Brasil e pelo menos chego a tempo de comer Chocotone para o natal e dar um peteleco na cabeça do meu primo por ter brigado injustamente com a minha tia...

Meu Deus, o que custa essa gente desempatar a vida dos outros??? Não fazer nada me incomoda tanto quanto fazer coisas demais... tempo livre tem que ser vivido sem culpa e não com o peso de não estar fazendo nada produtivo.

Para completar a minha lista de desesperos, acabou o pão! E está um p*** sol lá fora que antes seria uma super razão para sair de casa e me expor aos raios UV não fosse pela prapaganda traumatizante do governo australiano mostrando um melanoma maligno destruindo a vida de uma pessoa saudável em rede nacional e finalizada com frase "there's nothing healthy about a tan!" Ou seja, minha vontade andar até o mercado é igual ao meu saldo de namorados no último ano: zero!

Talvez tanta desmotivação tenha a ver com fato de que eu dormi muito mal a noite passada, acordei só umas cinco vezes... mea culpa... antes de dormir fui ver um negócio do SONEN da igreja messiânica online (nao sou da messiânica, mas achei legal o tal do encaminhamento dos antepassados para a purificação que a minhatia Má sempre falou). Só não contava com o fato de que a simples frase : "Meichu sama, estou encaminhando o sofrimento de um antepassado que está se manifestando através de mim para que esse sentimento seja purificado e essa pessoa que não sei quem é seja salva" fosse me dar trezentos pesadelos com um parente morto anos atrás (agora pode soar engraçado, mas na hora não foi). Juro que a intenção foi boa, mas recomendo que isso seja feito durante o dia, pq antes de dormir o efeito colateral é um tanto perturbador.

Fora ficar rolando como um espeto de carne na farofa a noite inteira, quando eu finalmente consegui cochilar, um dos vizinhos coloca uma gravação de uma música horrível para repetir vaaaaaaaaaaarias vezes e cantou junto (todas as vezes em que a porcaria repetiu)!!! - Me diz, o que você faz numa situção dessas??? Estava quase indo bater na porta da minha flatmate para perguntar se ela não estava afim de jogar uma partidinha de buraco na sacada e acordo de manhã como um jornal velho... aquela aparência de que você viveu dois anos em 8 horas.

O resto do tempo de suposto descanso eu fiquei lembrando de cenas de "Hancock" com Will Smith, e no meio dos meus devaneios me senti no meio de uma bola de lã com galhos secos, pedaços de telhado e todas aquelas coisas que só a computação gráfica daria jeito... se alguém sabe interpretar sonhos, por favor, enlighten me!

Minha irmã sempre diz que comer muito também dá pesadelo, mas eu nem comi tanto assim, só um bowl de pasta com quatro nuggets de esponja, digo, de frango (fico imaginando o que a Ingahn's Frozen Chickens faz com o resto do frango porque de todos os produtos que eu comprei só lembro de um que dá pra ver as fibras do frango, os outros sempre me lembram a esponja de banho da minha casa, mas honestamente, não acho que seja suficiente para um pesadelo, deve ser por causa do Sonen mesmo ou talvez o Hancock.

Bem, chega de reclamar... acho que já reclamei bastante e lembro do meu amigo Bruno falando que ele cancelou o blog porque só ficava reclamando. Ou seja, não quero terminar o blog... gosto dele apesar dos meus seguidores serem meus melhores amigos e meu público leitor se restringir a 5 amigos de amigos hehehhe não importa... adoro escrever, não obrigo ninguém a ler, só gosto muito da idéia de por falar tanta coisa sem sequer abrir a boca... quem sabe um dia alguém comente sobre tudo isso e eu fique famosa! No entanto, não se preocupem, sei que alguém que escreve sobre frango esponjoso não é exatamente material de filme hollywoodiano... anyways, a girl can dream.

Prometo que vou me empenhar em injetar um pouco de ação nas minhas aventuras cotidianas... plantar uma árvore de dinheiro ou quem sabe esbarrar com John Mayer na rua e ele dizer "Oh! Estou perdido, me ajuda por favor!" ... a única coisa é que ando desinteressada do JM ultimamente e ele mora em New York... tudo bem, vamos ver então se consigo fazer um surfista italiano dar bola para mim na fila do Thai takeaway! De qualquer forma, vou me empenhar e queridos leitores, comentaristas, pacientes da psiquiatria, conselheiros e psicólogos, este também é um espaço para vocês!

Obrigada por lerem este post sobre nada, mas estranhamente, precisava colocar tudo isso para fora. Oh céus, já me sinto melhor! Acho que vou sair para comprar o pão!

Wednesday, October 21, 2009

SOBRE A EMPOLGAÇÃO DE VOLTAR PARA CASA!


Na última temporada de "A Odisséia de Mamori na Austrália" a mocinha da nossa história estava tomando cataflan para se recuperar de subir e descer 400 vezes os quatro andares do seu antigo prédio para mudar-se ás pressas e desesperadamente para a rua de baixo quando seu bonito e folgado flatmate HOMEM não ajudou nada em nenhum dos dois dias de mudança porque ele tinha que assistir 'vídeos animados na internet, digo, tinha que que fazer uma apresentação para a universidade, deixando Mamori para queimar 300 milhões de calorias em 48 horas junto com a outra flatmate guerreira "Formiga Atômica", que no final do dia já estava praticamente um louva-deus pois os braços em forma de abraço do caixote não mais mexiam!
Tudo isso emendado no fato de estar temporariamente desempregada, porém livre do inferno e de no auge da mudança ter que sair por quatro horas para ir a um treinamento do novo emprego!
Oh! Esquecemos de contar! Mamori conseguiu um novo emprego numa empresa consideralvelmente (acrescente quantos mentes quiser) mais razoável que a empresa passada. SIM Mamori terá um emprego quando voltar das merecidas férias no paraíso tropical do Brasil!!!! Uhuuu.

UFAAA...

O importante agora é que Mamori vai de férias ao Brasil, comer empadinha de camarão e pizza de calabresa!
E mesmo que nesses dias que antecedem a viagem ela mal consiga dormir, tamanha é a ansiedade, tudo bem, compensa pois em breve ela poderá dar abraços de urso em todos os seus familiares e amigos!

- Ok narrador, obrigada pelos seus serviços mas agora gostaria de dar umas palavrinhas com o meu público leitor.

Alô, alô, testatando? Estão me ouvindo? Ou melhor, lendo?

Ótimo! Caraca... nem acredito que estou aqui para dizer que estou contando os minutos para chegar no Brasil!
Depois de ter passado por uma super odisséia em que trabalhei, estudei, pedi demissão, arrumei outro emprego, me mudei enquanto começava no outro emprego e administrava o site de casamento da minha irmã e todos os compromissos extras com o Le Cordon Bleu, os amigos e etc, etc, etc, estou sonhando com o fato de que em breve comerei uma coxinha com catupiry dentro!
Aliás, fiz uma lista de coisas que quero comer quando chegar no Brasil, não que eu esteja indo só para comer, mas é uma boa parte do que quero fazer aí (no entando, minha odisséia gastronômica terá início apenas depois do casamento pois não quero entrar na igreja parecendo um bucho enrolado num pano verde!):
Lista para mim mesma:

- coxinha com catupiry
- empadinha de camarão;
- pastel de queijo e caldo de cana;
- pizza de calabresa e frango com catupiry;
- moqueca de camarão da minha mãe
- onigiri da bá com bife a milanesa e pastel de carne!
- churrasco do villas
- churrasco da mãe da Thatá (asinhas com queijo?)
- churrasco do meu pai (puxa... acho que gosto mesmo de churrasco)
- brigadeiro e beijinho da Thatá
- pão de mel da munik
- bem casado e todos os doces do casamento
- mandioca frita
- banana frita
- caldo de mocotó
- Sushi do Hiroshi
- qualquer coisa que a Bá cozinhar
- acarajé... no entanto não sei onde conseguirei um bom em SP - aceito dicas
- escondidinho de carne seca e mandioca
- leitão a pururuca e tutu de feijão com farofa de ovo
- feijoada com couve
- hot dog com tudo dentro
- sanduba de campinas daquele lugar que a gente come a noite
- manga, melancia, goiaba vermelha, caqui, jabuticaba e ponkan

OH Céus, sinto que vou engordar!

Preciso:

- marcar uma consulta com a nutricionista depois de comer tudo isso
- NÃO marcar consulta com a endocrinologista
- fazer drenagem linfática e talvez me internar no mesmo spa do Daniel Oliveira quando ele filmou CAZUZA.
- Todas essas consultas me fazem lembrar que talvez eu precise dar um jeito nos cascos... isso - marcar consulta com o Ivan.

Melhor começar a descer pra Manly a pé e não tomar mais o ônibus...!

A parte disso... que o tempo passe muito mega master ultra-sonicamente veloz pra eu chegar no Brasil rapidinhooo!
Meu povo e minha pova! Estou chegando! Preparem o sal de fruta!
PS. Perdão aos seguidores do blog que recebem mil atualizações dos meus posts... mas é que mesmo corrigindo várias vezes ainda faço erros gramaticais... hehehhehe
PS. Quero abraçar todo mundo! Não estou abandonando ninguém pela comida. Mesmo porque, isso é algo rude ir em festa só para comer... ahahhahhhaha

Monday, October 5, 2009

Incrível




Impressionante.



Impressionante mesmo é encontrar paz num trecho copiado de um livro saído do coração outrora tocado pelas palavras de alguém, ou simplesmente poder ver que está sol lá fora e que é uma sorte não ser soldado em guerra, escravo de alguém ou vítima de qualquer tipo de abuso que seja.



Impressionante mesmo é a maneira transcendental como o ser humano se cura do passado, das moléstias do presente, de um tombo, de um episódio desses assim, que te faz parar para pensar que o mundo inteiro deve ter desacelerado para olhar, e sentido sua vergonha ou sua dor ou sua resignação silenciosa.



Impressionante é ter coragem de sair, de começar de novo, de terminar, de perguntar, de abrir os olhos, de fechá-los; quando os inúmeros julgamentos sociais te silenciam, te ignoram ou te sufocam.



Impressionante é ainda ser capaz de se emocionar quando a loucura dos homens te arrebatou por inteiro, estraçalhou sua noção de realidade, seu senso de espaço e direção. Tudo isso por um pedaço de carne ou pelo simples fato de que seu nome ou o título que te deram sei lá por qual razão passa por cima do seu discernimento entre certo e errado, aquele discernimento interno que vem no pacote de ser humano.



E acho até engraçado as pessoas que saem por aí falando que não existe certo e errado, que são apenas escolhas diferentes (devagar aí... uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa). Todo mundo que tem filho, irmão mais novo, primo mais novo, afilhado e sei lá mais o que, ensina que é errado roubar, desrespeitar, extorquir, trair e chantagear... mas talvez, o que me preocupe mais é saber que quando eles forem experimentar o mundo por si mesmos vão encontrar uma realidade diferente daquela que foram ensinados a praticar.



Para mim, se certo e errado não existisse a gente não passaria tanto tempo tentando fazer a escolha certa e não se sentiria tão mal quando faz algo errado.



Em pleno século XXI, enquanto o homem estuda o espaço inter-atômico do DNA ainda engatinhamos para exercitar o perdão sincero, a gratidão que é um sentimento vindo da graça e a compaixão que é o ato de se colocar no lugar do outro antes de atirar uma pedra, soltar veneno pela boca ou negligenciar as necessidades de alguém. Mais que isso, é ver que bondade genuína soa para a maioria dos grupos mais descolados e/ou cocainados da cidade como uma frase de para-choque de caminhão, mais precisamente um clichê politicamente correto.



Impressionante é ver que tem gente tão absorta num problema que não vê que o verdadeiro problema está no coração e não na cabeça e muito menos nos outros. Que o pior tipo de incompetência é não saber dar e se permitir uma coisa que está aí como característica inerente: amor.
Não estou falando só do amor pelo próximo (porque disso já escreveram tantas e tantas vezes) estou falando do amor por você mesmo, pela sua naturalidade, pela grandiosidade que permite com que você seja, inexoravelmente a melhor versão de si mesmo, livre dos conceitos estereotipados das revistas, das grotescas mentiras que se conta para si mesmo ou das falácias maldosas da amiga que está sempre na moda, andando com as pessoas certas e que adora poder.



Me pego pensando que enquanto a gente tem que provar que é honesto o bastante, inteligente o bastante, qualificado o bastante, limpo o bastante, bonito o bastante, agradável o bastante, o tempo está passando e quando velhos e cansados, mortos e em espírito, tudo aquilo pelo qual derramamos sangue e lágrimas significa exatamente nada se você não usou o que te foi dado para o bem.



Por isso, por experiência própria, entendi que não se deve fazer nada por obrigação ou compromisso porque a gente não deve atar o outro às nossas escolhas, nem se atar às escolhas dos outros. É mais justo para as partes fazer porque quer, estar ali porque quer e ao escolher estar ali, estar por inteiro e não pela metade.



O cotidiano deve ser mais divertido e bonito do que realmente é porque ao invés de apenas ler sobre as grandes jornadas dos homens, é possível fazê-las, viver tudo aquilo que está nos livros, conversar com gente diferente, dormir na praia e acordar no alto de uma montanha nevada. Sair do centro para encontrar o próprio centro. O dentro profundo onde retomamos nossa condição de liberdade.



Encorajo quem passa por mim a viajar e ver o mundo com os próprios olhos, escrever seu próprio diário. Encorajo a experimentar viver numa cidade diferente, a fazer uma horta, comer aquilo que plantou, pelo menos uma vez na vida para saber como dá trabalho fazer crescer um repolho que é de onde os pais dizem que vêm os filhos. E apoio comprar de artistas desconhecidos e desapegados para incentivar o novo, e gosto de produtores responsáveis e simples que deixam as galinhas serem galinhas e apagam a luz quando fica de noite.



Tudo isso porque hoje o mundo está de um jeito e espero que amanhã esteja melhor.



Espero sinceramente que amanhã não tenham que gastar milhões para dizer para as pessoas que matar alguém não é legal, que grandes corporações têm matado legalmente um monte de gente por causa de pedaços de papel com cara de presidentes assassinados e espécies em extinção, que quando você joga lixo na rua os bueiros mal projetados das grandes cidades entopem e alagam o consultório da minha irmã e a casa da sua mãe e que muito provavelmente esse lixo ainda vai estar no mesmo lugar na sua próxima encarnação.



Espero que amanhã, meus filhos não tenham que imigrar para saber o que é correr livre num parque e voltar tranquilos para casa depois das seis sem ter que pegar um engarrafamento ou pensar em vinte maneiras de evitar um assalto. Espero que não tenhamos que tocar mais nesse tipo de assunto e que todo nosso tempo seja para discutir onde podemos melhorar e não onde continuamos errando.



Impressionante é ver gente com a qual poucos falariam oferecendo uma mão, e que quem você nunca esperou que fosse estar ali ao seu lado quando você nunca imaginou estar em determinada situação, acabou de fato dividindo seu assunto de cabeceira e compartilhando dos seus sonhos e pratos de macarrão.


Impressionante é ver irmão tirando do irmão por vaidade ou cruel ambição e ver gente que tem muito pouco ou quase nada dar tudo o que tem porque fora da caridade pouca coisa faz sentido. E tudo aquilo que agride, complexos, distúrbios, paradoxos abandonam o que são porque nem eles mesmos vêem sentido e pedem paz.

Paz para tomar decisões melhores e mais conscientes, paz para caminhar, para se apaixonar, para lavar a boca, voltar atrás, chutar o balde, entender qual face assume qual momento, paz para viver inspirado, para gritar, cantar ou calar, paz para ceder, paz para ser alguém nesse mar de 4 bilhões e mais alguns.

Impressionante é saber que ás vezes tudo o que se pode fazer é contar uma história, mostrar as fotos e os filmes, esperando que quem veja e/ou escute aprenda alguma coisa com ela e seja melhor. Não pelos outros mas por si mesmo e consequentemente para os outros, se assim desejar.



Impressionante é como a vida é imprevisível e que mesmo assim existe uma canção certa para cada ocasião. Impressionante se espantar e comover com o humano, com o coração que bate, com as mão que dão forma à humanidade,com aquilo que se pode fazer e escolher.


Impressionante, não...incrível! Como tudo aquilo que é possível amar. Incrível como nosso futuro.

Sunday, September 13, 2009

Um segundo no tempo

Por um segundo o tempo parou. Por um segundo, olho a minha volta e agradeço pelas coisas bonitas do meu dia. Agradeço pelo ônibus que chegou na hora, pelos meus pés que me sustentam e me levam onde quero chegar, pelos atos aleatórios de bondade de estranhos para comigo, pelas gentilezas e companhia dos meus amigos, pelos laços eternos e pelo apoio incondicional da minha família.
Agradeço pelas flores pelo caminho, pelos lindos olhos que vejo durante meu dia e pela luz nos meus. Agradeço uma gargalhada que há um tempo não dava e por tudo aquilo que me faz forte e paciente. Agradeço a suavidade da vida, valorizo os segundos em que mágica acontece para que eu me lembre que sou protagonista desta história e que ela merece um final feliz.
Só por hoje, neste momento de silêncio e consciência alerta percebo que saber pedir é tão importante quanto receber um pedido e que sorte mesmo é ter tempo para viver a vida ao invés de ouvir falar dela.
Neste instante de silêncio entendo que a presença do divino é calma e simples e que esta conexão está em qualquer lugar. Entendo também que agradecer faz bem ao coração e lembra que o tempo é curto demais para se gastar com qualquer outro sentimento que não seja forte, puro e constante como o amor.
Neste instante, vale à pena render tributo à vida pela sua magnitude e perfeição, vale entregar-se por completo porque quando amanhecer, o tempo já terá passado e as graças estrão prontas para acontecer.

Friday, August 14, 2009


Comecemos pelo começo...

Eu estava procurando trabalho pra completar as benditas 600 horas do meu industry placement e por um mês procurei como uma insana, apliquei para todos os tipos de trabalho, a ponto de pirar na batatinha. Estava tão estressada que liguei pra Má para perguntar onde eu poderia comprar um floral para estresse. Por uma semana dormi com dor de estômago de nervoso. E quando cheguei na farmácia, comprei não apenas um floral, como praticamente todos os produtos calmantes disponíveis nas prateleiras.

Assim que eu tomei o floral, pá! Da noite para o dia recebi quatro ofertas de emprego seguidas (e fiquei pensando... cara, esse neg'ocio funciona que é uma beleza!!!).


No meio das ofertas tinha um e-mail do meu chef da faculdade falando "Mamori, se você ainda estiver procurando trabalho, estão procurando gente no Bennelong, na Opera House, procure pelo chef Guillaume Brahimi, ele é um excelente chef e é muito conhecido na Austrália".



Três coisas: eu nunca tinha ouvido falar em um restaurante chamado Bennelong na Opera House, muito menos em Guillaume Brahimi, muito menos ainda que ele era conhecido em algum lugar e achei até que fosse um desses exageros de chefs franceses querendo puxar a sardinha para o lado deles.



Então, liguei para minha enciclopédia ambulante, o Dervish... "Dervish, você conhece um tal restaurante chamado Bennelong, tem um e-mail do chef Brioche me falando que estão procurando gente lá".



"Are you kiddiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiing??? Claro que conheço, é um dos melhores restaurantes da Austrália, não fica melhor que isso!!!" Liga agora!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Está entendendo??? Agora!!!


E liguei e mal sabia que essa ligação mudaria minha vida.


O chef me pediu para ir vê=lo no mesmo dia.

Eu fui... Cheguei lá, me recebeu um português que mais tarde descobri que era o head chef, ou seja, ele é o poder! E o poder fez calar os liquidificadores para me explicar as seções da cozinha que pareciam gigantes e assustadoras.

Enfim, no dia seguinte, eu tinha um trial. Nao fazia idéia do que ia acontecer, afinal, eu tinha Perth na mão, com um chef que mais parecia a reencarnação de São Francisco que um chef de tão bondoso que era.

Trabalhei por 12 horas naquele dia e no final da noite o head chef me perguntou se eu tinha gostado e queria voltar. Eu falei "Claro!" Afinal, quando te oferecem um emprego no tal do Bennelong, você não pensa duas vezes, simplesmente vai e aceita.

Eu aceitei esse trabalho e com dor no coração, comuniquei o chef de Perth da minha decisão que como todo bom santo me deixou as portas abertas.

Na mesma semana trabalhei sexta e sábado e na semana seguinte, mais cinco dias seguidos, mais de 12 horas por dia a ponto de não sentir mais os pés. Minhas mão ficaram calejadas, queimadas, com bolhas, e meu corpo inteiro doeu.

Como sou a garota nova, a australiana que me da os comandos rosnou e latiu para mim porque não sei fazer ainda tudo com perfeição de um restaurante 3 hats. Uso minha casa praticamente so para dormir e tem horas que me dá medo só de pensar em voltar ao trabalho.

Minha família está orgulhosa, assim como todos os meus amigos... mas a verdade é que só eu sei o que meu corpo e mente passam nessas horas de trabalho pesado, mais pesado que o de um pedreiro. E que no fim das contas o restaurante ter três hats ou nenhum hat não muda o que eu sinto.

Aprendi a passar praticamente o dia todo sem conversar com ninguém. A ficar calada e só obedecer, dizer sim e pronto, mesmo que não seja minha culpa, engulo e falo yes chef, yes, sir, yes mamn.

Este está sendo como um processo dos alcólicos anonimos, um dia de cada vez. Antes eu amava ver a Opera House... hoje me dá tremedeira.

Trabalho sem reclamar. Estou admirada com o que meu corpo consegue aguentar. Eu agradeço ter trabalho, porque sei que a graça divina deve ter um plano maior do que a minha compreensão no momento.

Não consigo contar isso de uma forma engraçada. Só posso defender os trabalhadores de cozinha que pegam no pesado como a gente. Sei que existem lugares em que mesmo que seja duro, as pessoas cantam e dão risada e relevam os erros. Lá, onde estou, perdoam meus erros, mas nunca relevam.


As pessoas não têm idéia do que se passa na cozinha de um restaurante e não estou falando de uma cozinha qualquer, estou falando de uma cozinha onde existe dinheiro e infra-estrutura: as pessoas não sabem que quando alguém reclama, somos humilhados, xingados e agredidos. Trabalhamos mais de doze horas por dia, com salários baixos e sem intervalos para ir ao banheiro, comer numa velocidade razoável ou respirar ar puro. Isso é lei comum na maioria dos restaurantes que existem por aí, inclusive no Brasil. E todo mundo diz que o sistema é assim e que a gente precisa se adequar a ele.

Eu emagreci. Acabei com meus band-aids. Não sinto raiva, cada minuto é precioso demais para gastar com raiva.



Nunca mais vou olhar um restaurante da mesma forma, não reclamo mais de atraso, de espera de marca de dedo no prato.


Não trato ninguém mal, não desconto nos outros, não respondo e continuo gentil. Como disse Chico Xavier, "o ódio que julga ser a antítese do amor, nada mais é do que o amor que adoeceu gravemente" e os doentes, necessitam de cuidado.


Preciso espalhar no mundo a idéia de que precisamos ter compaixão na 'prática, muitas vezes, aquilo que é da maneira que é, não necessariamente está certo e a gente tem que ser a mudança que quer no mundo.


Essa é minha experiência e minha percepção. Não se trata de dó ou piedade.
Ainda estou me acostumando com tudo isso, com essa realidade que me arrebatou por inteiro.
Quando chegar minha hora de decidir, quero fazer do ponto de vista de alguém que faz isso com consciência.


Achei que esse tipo de absurdo cotidiano fosse simplesmente um drama de filme, mas talvez o filme tenha inspirado a realidade e francamente, não tenho muitas palavras para expressar o que eu presencio por lá.


Rezo o salmo 90 todos os dias para ter forças e persistir. Se estiveres em apuro, agarra-te à tua fé.


Você que habita ao amparo do Altíssimo,e vive à sombra do Onipotente,
diga a Jave: "Meu refúgio, minha fortaleza,meu Deus, confio em ti!"
É livrará você do laço do caçador,e da peste destruidora.
Ele o cobrirá com suas penas,e debaixo de suas asas você se refugiará.O braço dele é escudo e armadura.
Você não temerá o teror da noite,nem a flecha que voa de dia,
nem a epidemia que caminha nas trevas,nem a peste que devasta ao meio-dia.
Caiam mil ao seu ladoe dez mil à tua direita,a você nada atingirá.
Basta que olhes com seus próprios olhos,,para ver o salário dos injustos,
`porque você fez de javé o seu refúgio e tomou o Altíssimo como defensor..
A desgraça jamais o atingirá e praga nenhuma vai chegar à sua tenda:
pois ele ordenou aos seus anjosque guardem você em seus caminhos.
Eles o levarão nas mãos,para seu pé não tropece numa pedra.
Você caminhará sobre cobras e víboras,e pisará leões e dragões.
Eu o livrarei, porque a mim se apegou.Eu o protegerei, pois conhece o meu nome.Ele me invocará, e eu responderei.
Na angústia estarei com ele.Eu o livrarei e glorificarei.
Vou saciá-lo de longos diase lhe farei ver a minha salvação".

Saturday, July 18, 2009

Quando o mundo pára


Eu percebi quando o tempo mudou... de repente, não mais que de repente, como uma piada sem graça, senti a vibraçao mudar e aí, foi uma atrás da outra. Esse post tem sido um processo para mim, um processo de voltar a me movimentar. Foi escrito e reescrito, pedacinho por pedacinho até que eu pudesse publicar.

Foi muito simples de ver que eu não estava na crista da onda. Mas por incrível que pareça, fiquei consciente o tempo todo. Só me desesperei quando percebi que à minha frente havia névoa. Névoa é pior que o escuro, ao escuro pelo menos, os olhos se acostumam. Mas no nevoeiro não há por onde. Perde-se a noção espacial, temporal, sufoca-se.



Foi assim que me senti nessa última semana, aquilo que vingaria não vingou, aquilo que venderia não vendeu, aquilo que sentiria, não senti. Restou apenas, o vazio.



Em ocasiões passadas já me senti assim, talvez de uma maneira muito pior, sem perspectiva ou meta. Dessa vez ficou um vazio, que logo virou saudade. Saudade do que poderia ser, do que poderia ter sido, saudade daquilo que é concreto, plausível e palpável naquele lugar onde conhecemos por lar mesmo que lá nesse lugar exista uma imagem de você que não mudou para quem ficou, mas que entre as coisas imutáveis existe o amor que chega ao ponto de pedir a todos os santos do céu que olhem, não por eles mesmos, mas por você.

E a consequência do vazio foi saber que alguém que já estudou tanto sobre pensamento positivo fé e amor tem condições suficientes para saber que é preciso deixar o vazio e os amigos do vazio te devorarem para encontrar paz. De dentro da minha angústia, deixei o vazio fazer seu serviço.


No meio do nada, administrando julgamentos, auto-piedade, medo, ignorância, disse a mim mesma, é preciso ter fé e me agarrei a isso. Eu me lembro bem de uma conversa com o Dervish em que eu estava no começo da grande busca do nosso IP e algo não tinha saído bem. Lembro da frustração e de ter sido derrubada nas pernas pelas palavras HAPPY BIRTHDAY! Nesse dia não quis chorar, não tive raiva, nem medo, nem culpa, nem vergonha (e olha que eu sinto muita vergonha). Eu me coloquei exatamente no meu lugar: aprendiz!



"Tudo vai ficar bem! Algo melhor está a caminho!!!"



"Tenho mesmo que ter fé!"


Quando a gente tem fé, coisas boas vem para o nosso caminho e nos tomam nos braços. E acredito nisso, acredito que essa é a nossa razão de ser, aprender a abrir mão de certas coisas, entender que como seres humanos, não podemos controlar tudo. Entreguei a Deus meu desespero, meu medo.


Agradeci mais uma vez a sorte de estar onde estou, de fazer o que faço de ter a certeza de ter a noção exata de que estou onde deveria estar, fazendo o que deveria fazer mesmo pensando constantemente nas palavras "eu quero a minha mãe!".



Morar longe de "casa" faz isso com a gente. Faz a gente ter saudade do que poderia ter sido, mesmo que se tivesse não seria tão bonito como nas nossas ilusões.

Olhei fotos antigas, fui saber dos meus amigos, alguns viraram celebridades, outros tiveram filhos, alguns encontraram alguém para casar, saíram do armário, descubriram que alguém tão de perto não era quem pensavam ser, alguns continuaram doentes, outros conseguiram exatamente aquilo que queriam. Olhar para fora ao invés de olhar só para dentro mexe com a gente.



Então, eu me recolhi por uns dias, em humilde reconciliação reflexiva. Orei, tomei banho de sal grosso, jantei um livro de auto-ajuda, andei, corri, dormi, perdi o sono, pintei o cabelo, sobrevivi ao ócio, e ás idéias preconcebidas de paz e felicidade.

Aos poucos, a fase de "Oh my God, what now" foi perdendo a força e dando lugar a "Yes! I can do it!" e posso citar a mim mesma "Just have faith and good things will come your way".


Para usar meu tempo produzindo algo bom e construtivo voltei a desenhar. Redescobri meu amor por designs. Alguns dias, pelo meu trabalho, passei madrugadas em claro, só pelo prazer de ver uma tela terminada.


A imagem que ilustra o post é um dos meus designs. E não estava triste quando o fiz, pelo contrário, estava emocionada. Comovida por ainda estar em mim a mesma paixão de anos atrás.

Se faz sentir, faz sentido. Maior que este corpo ou que as idéias dos homens














Thursday, July 9, 2009

Matrimônio, matrimônio...isso é lá com Sto. Antônio!



Mesmo aqui do outro lado do mundo, a gente não poderia deixar de comemorar essa tão importante tradição brasileira. Afinal, brasileiro que é brasileiro comemora festa junina com tudo que tem direito, afinal, é só uma vez no ano!

Depois de quase um mês planejando, a nossa festa junina saiu!!! E como toda festa sempre tem uma polêmica, a nossa não poderia ser diferente!


A começar pelo milho... O milho foi o vegetal polêmico da ocasião a começar pela decisão dele ser ou não parte da festa, dadas as nossas limitações orçamentárias "o que é que vai ter de salgado?" - respondo: "pão de queijo, pipoca, cachorro quente e batatinha" escuto: "MAS O QUE ACONTECEU COM O MILHO????????????????????" respondo: "não aconteceu nada, justamente, nós cortamos o milho porque está fora de época, três espigas por $3 e viraremos todos galinhas da Angola pois não apenas nossa dieta será constituída unicamente de grãos como logo em seguida morreremos de fome como os habitantes da nossa nação irmã africana. (respiro) sem contar com o o fato que despertaremos a ira de 65% dos convidados, porcentagem correspondente aos participantes do sexo masculino que esperam comer salsicha no pão (e naquela hora estave me referindo unicamente ao contexto gastronômico da figura)" e depois da minha detalhada explicação escuto: " não cara!!! tem que ter milho!!!" e blábláblá, converse com a minha mão.




"Ok, ok, ok, vamos então no Paddy's Market comprar o milho, lá deve ser mais barato...


(reticências... geralmente significa... Oh dear...)"


E lá fomos nós no (old) red car da Carioca, comprar milho barato para alimentar dois times de futebol em campo e seus reservas.


Andamos pelas barracas do mercado e superado o choque inicial ao descobrir que os donos das barracas de vegetais eram todos chineses e gritavam as ofertas no caso, em chinês... encontramos uma única barraca em que havia milho e para nosso espanto, o feirante era australiano!
Três milhos por 2,5... mais barato mas eu precisava pechinchar... orçamento é orçamento... e ele nos deu 29 milhos e uma espiga de brinde por 20 dólares! Ótimo, fechamos negócio (melhor pular a parte em que a Ra fez as contas erradas e quase brigou com o dono da barraca por vender milho mais caro para a gente e pagamos o mico de ver o cara falar "presta atenção moça, claro que não! Eu estou fazendo 30 milhos por 20 e não vinte milhos por trinta" ...

Caixa de milho na mão, "vambora daqui!".

"Desvia, desvia, aiii tá pesado... Ra... C-O-R-R-E QUE O FAROL ABRIU!!!"


Milhos salvos!


Em casa, duas mulheres solteiras descabelaram trinta espigas de milho... acredite, não existe prazer nisso e resta apenas o cansaço final. Dois bolos de fubá foram assados, um com goiabada e outro com erva-doce, uma panela enorme de canjica também foi preparada e eu literalmente me senti como as merendeiras da escolas municipais do estado de São Paulo quando a fila do bandeijão se instalou e eu comecei a gritar para botar ordem no galinheiro, digo, na cozinha.


O vinho quente ferveu, a cachaça esquentou, o pão de queijo assou, a pipoca estourou, a salsicha ferveu e alguém, fez a caridade de trazer paçoca! As bandeirinhas e o bolo de cenoura chegaram ás 6 um pouco antes do padre.


Todos os cavalheiros a caráter, australianos, alemães, venezulanos, brasileiros, indianos e afins todos de monocelha, bigodinho e cavanhaque, chapéu de palha, camisa xadrez e retalho na calça.


E as damas de vestido colorido, trancinha ou maria chiquinha, pintinhas e coração no bumbum.

Tudo correndo bem até que chegou a hora do CASAMEMTO NA ROÇA e finalmente, Santo Antônio ouviu minhas preces e me deu um matrimônio!


POIS É POVO, EU CASEI! Casei em inglês com o o Gabriel, partidão, todos os dentes na boca, residente australiano, um caipira bem caipira! Nosso casamento foi a comédia do ano, meu bouquet de bandeirinha caiu no chão e não sei se vocês fizeram a conexão mas bouquet parece muito com outra palavra quando pronunciada ao pé da letra em "caipirês" e enfim... sem comentários...


Nossos votos foram uma dose de cachaça BOAZINHA e a única coisa que lembro foi o noivo falando "Anda logo padre, HONEYMOON, HONEYMOON padre!"


E como se não bastasse 25 pessoas de todas as partes do mundo numa sala de apartamento falando ao mesmo tempo e comemorando um casamento de festa junina com a empolgação de um canguru boxeador, nós não poderíamos deixar de dançar quadrilha! Claaaaaaaaaaaro por que não fazer mais essa???
Emendada no casório começou a quadrilha... que durou exatos 45 segundos porque foi exatamente o momento em que nosso vizinho de baixo invadiu o arraiá (polêmica 25675) fazendo o maior escândalo pra gente parar de pular no chão... (oh crap) E LITERALMENTE APAGOU A NOSSA FOGUEIRA... (rapidinho, em nossa defesa, eram sete horas da noite e nós nunca fizemos barulho, de verdade, foi a primeira vez sendo que o bebê deles chora TODOS OS DIAS de madrugada e nós nunca reclamamos. Ou seja ele agiu como um animal irracional americano, then again, talvez ele seja um).


Aí os amigos australianos que são bem australianos resolveram ficar esquentados com o vizinho e dizer, "Olha Man, this is a wedding!" e aí a namorada brasileira tentou segurar o namorado australiano e cara... aí sim a festa virou uma novela... desmanchamos a quadrilha rapidinho rapidinho, não lembro como foi que meu quarto virou um pronto-socorro emocional, mas estranhamente, pessoas com lágrimas nos olhos adoooooooram o carpete do meu quarto (polêmica 34528) ahhahahah e entre mortos e feridos o importante foi que eu casei !!! ahahhahaha (só rindo mesmo)


Encontrei com o Dervish e o Stingy depois da festa ... eles tinham ido embora mais cedo e contei o qu aconteceu... "Mamori, se você quase explodiu seu apartamento quando casou de mentira, o que é que vai acontecer quando você casar de verdade?" ... "Não sei Dervish, mas acho melhor avisar o vizinho antes, né?" ... "Talvez seja melhor avisar o Corpo de Paz e os bombeiros também!" ... "Ok, vou pensar nisso"

Só fiquei triste pq não deu nem tempo de fazer a dança da laranja e o ovo na colher.

PS. Depois do casório fizemos controle de danos e mandamos uma caixinha de bombons para o vizinho pedindo desculpa. Não interessa quem estava com a razão ou não, interessa que a gente precisava ficar de boa com eles e pronto e quando fomos conversar com eles, a esposa claro (porque quando os maridos fazem merda sempre sobra para as esposas) veio toda envergonhada se desculpar pelo comportarmento do trogloditam digo do marido dela (que tinha tido um bad day) e falar que quem tinha que a gente não precisava apologize porque a gente nunca faz barulho e eles sabem que o babê deles grita toda madrugada e blá blá blá. Ou seja, ficamos de bem. Ou seja, moral da história crianças quando vocês tiverem um dia ruim no trabalho não descontem na felicidade do vizinho porque eles não tem culpa. Em defesa das festas de apartamento me despeço deste post. Ufa casar dá mesmo trabalho!!!

Mesmo assim , obrigada Santo Antonio, já te tiro do balde e devolvo o menino Jesus.

Thursday, June 25, 2009

Lixo de banheiro é um desabafo



Preciso desabafar... não adianta... estou tensa... duas palavras para vocês: MY PRECIOUS!


Se você assistiu ao Senhor dos Anéis sabe de quem eu estou falando, na verdade, postar isso é como ser protagonista de Risco Duplo e rezar para não me pegarem... pois então, imagine o Smeagol em versão feminina te enchendo a paciência a ponto de fazer do seu quarto uma jaula... tudo para não ter que escutar a mania incessante de reclamar de tudo... pois é... MY PRECIOUS ressucitou... para fazer da minha rotina, digo, a do Frodo uma batalha!


Meu pai sempre me ensinou que crítica por si só nunca é construtiva porque não oferece solução... lembra daquele processo diga uma coisa boa, depois vomite o ruim e termine com a sobremesa: algo doce e agradável... se a gente só vomita o ruim, dificilmente as pessoas vão querer voltar ao restaurante... e isso é com tudo na vida.

Aprendi quebrando a cara que gente que reclama muito passa a vida inteira reclamando e ninguém gosta de gente assim. Reclamar é doença.

Ou seja, quem reclama de tudo e critica os outros afasta as pessoas, porque chega um ponto que por mais que se goste do reclamante, a situação fica insustentável e para não ouvir mais a respeito e preservar a convivência, o silêncio é a saída.

Nesse trajeto rumo à solidão são sacrificados os melhores momentos que se pode ter com alguém, sacrifica-se a amizade, a camaradagem, a compreensão com o outro e mesmo a capacidade de enxergar e valorizar coisas boas que são feitas todos os dias.

As pessoas vão se fechando por não saber como lidar.

Minha mãe sempre disse que solidão é triste e que gente sozinha tem mania de se apegar às coisas, de ficar metódico e severo com parâmetros, ou seja, fica um chato.

Pior que isso é só saber falar de si mesmo e querer que os outros falem de você, egocentrismo, está ligado? Não importa se a conversa é sobre o jardim da Flor, a pessoa, no caso, falará do SEU vaso de orégano.

My Precious ganhou esse apelido dos meus amigos, sem que eu tivesse dito uma só palavra e o negócio pegou de tal forma que não falam mais o nome da dita cuja... é My precious pra lá, My Precious pra cá e enquanto eu estava sofrendo em silêncio, todo mundo já tinha percebido...

Eu não estou sabendo muito bem o que fazer, segundo minha irmã "faça cara de palmeira... você sabe como é, não sabe?". Pois então... estou correndo o risco de criar raízes na sala e derrubar um coco, pois essa é a única cara que estou usando ultimamente... abanando minha folhagem.

Conviver com alguém de perto é isso... você acaba descobrindo que sem maquiagem todo mundo tem defeito, o bizarro é que dá para entender exatamente o que faz as pessoas correrem dela... eu mesma correria. Não pelos defeitos em si, mas por não permitir que o outro também tenha os seus próprios defeitos e seu tempo para lidar com eles. Acho que isso é o que assusta mais.

No começo, achava que fossem hormônios, vulnerabilidade, qualquer fator assim e ficava que nem uma tonta agradando para não desagradar. Mas depois passou a ser simplesmente um chute no peito essa coisa de ser imprevisível e querer controlar os outros, você sofre e fica quieto sem saber de onde veio. Quando a gente fica tolhindo a liberdade do outro, a vida vira uma obsessão e o menor gesto como acender ou apagar uma luz provoca terror. Ou seja, estava mesmo aterrorizada... não acendia a luz porque gastava luz, se apagava a luz também estava ruim porque ia queimar a lâmpada. Me explica???
Depois tem o lance do lixo de banheiro... não temos lixeira no banheiro porque My Precious doesn't like it, tínhamos um saquinho transparente... agora me fala se o seu lixo de banheiro ficasse ali para excrutínio público, como você se sentiria quando expostos estivessem seus cotonetes usados, seu fio dental, as unhas cortadas, etc, etc, etc...

No fim, precisei desabafar e me dar ao luxo de comunicar minha decisão de apertar aquela popular tecla do sistema quando seu cérebro foi violentado na horizontal, na vertical e na diagonal tentando achar uma solução diplomática, não restando saída, lanço mão do FODA-SE... Porque: não é da minha conta redimir os outros, não exijo que andem com as mãos ao invés dos pés, aprendi a pedir e a fazer por mim mesma se me incomoda. Não dou no saco de ninguém de graça, MAS SE VÃO POUPAR A VIDA DO BANDIDO, NÃO MEXA COM OS MEUS DIREITOS HUMANOS... Cada um sabe onde dói o calo. Hoje tenho uma noção exata que é exatamente pelo amor que a gente quer trazer para as nossas vidas que temos que nos melhorar, fingir de santa não adianta, vão te pegar no pulo principalmente se a sua trilha sonora for "por fora bela viola, por dentro pão bolorento"!!! Sou macaca velha nesse negócio de viver na Terra e aprendi que: se está na Terra é porque tem defeito! Então não me venha apontando o dedo porque olha só... meus dentes são pequenos, mas eu sei morder!

Cada um corre sua maratona no seu ritmo por isso chatos de saco, estudem a história do liberalismo "laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde va de lui même" - "deixa fazer, deixa ir, deixa passar que o mundo vai por si mesmo" e por favor, deixem a lixeira no banheiro, eu comprei para isso.

Monday, June 22, 2009

Mais Perto de Mim



WARNING!!! OLHEM SÓ, ESTOU AVISANDO ANTES: TIVE UMA SEMANA DO BARALHO E CONSEQUENTEMENTE MEU POST ESTÁ UM TANTO INTANGÍVEL. VOU FALAR DE NUMEROLOGIA, ENTÃO SE VOCÊ É DO TIPO QUE SE OFENDE OU ACHA QUE SOU BRUXA, MACUMBEIRA (REALMENTE NÃO ME IMPORTO) OU ACREDITA QUE MEU DESTINO MERECIDO É O INFERNO REITERO QUE: "QUEM DESEJA TAL FIM PARA UM IRMÃO VAI DESCER COMIGO NO MESMO ELEVADOR" E ESSA É MINHA INTERPRETAÇÃO DE MOISÉS NO VELHO TESTAMENTO!



Quatro dias depois... é faz só quatro dias desde sexta-feira... bendita sexta-feira!

Não vou mentir que essa semana foi bem bizarra, até quinta-feira, uma calmaria supeita... daquelas que a gente não entende muito bem o que está querendo dizer. Foi tanto estranha que eu não consegui uma mísera inspiração para postar.

As tentativas foram tão inúteis quanto escrever um anúncio para os classificados de automóveis de domingo, aqueles do tipo em que se tem três linhas de dois centímetros para definir quão maravilhoso é seu Gol turbo plus supercharge total flex 2007 e percebe que gastou mais de duas horas tentando decidir qual adjetivo o descreve melhor... se é o turbo, se é o total flex, se é o supercharge e acaba decidindo por "bolinha prata" que é literalmente como tomar uma bolada na cabeça, ou seja, já que não ia dar samba melhor descer da plataforma e calçar as sandálias da humildade... então esperei para ver se o resto da semana explicaria minha inexplicada inquietude.

Nesse meio tempo choveu o mundo... para variar lá vamos nós re-lavar a roupa que ensopou na sacada após ter sido deixada por inocentes 20 minutos sem supervisão de um adulto... aliás, quem estou querendo enganar, sou eu quem cuida da roupa então, teoricamente a história do adulto fica meio surreal.

Enfim, eu estava me sentindo estranha (daquele jeito estranho que só uma mulher sabe como é e que não adianta tentar explicar, e antes que coloquem a culpa na tpm, vou logo dizendo: "não estava de tpm!" )...Cara tem dias que a mulherada está estranha e pronto... não adianta ficar ficar perguntado o que que está acontecendo. Aliás, um recado para os homens: se vocês têm amor pelas esferas responsáveis pela perpetuação de sua linhagem entre os mortais não digam nunca a palavra proibida"calma" a uma mulher num momento estranho porque ela pode decidir que não é tão importante assim que você continue a procriar e os mastigue como chiclete...(sanguinária??? imagina...) só estou esclarecendo uma questão de auto preservação.

Moving on... a quinta-feira passou arrastada... chegou sexta... dia do mapa numerológico... acordei animada e fui encontrar com o Músico. Cheguei atrasada... demorei para encontrá-lo, comecei automaticamente achar que "não é para ser! Simples, não é para ser e pronto!". Tremo como uma vara verde!

Me deu um puta nervoso quando chegou a hora de mexer nos números de novo... Lembrei da primeira e única vez qu eu fiz numerologia antes e lembrei também que saí inconformada com o que a mulher me disse: "então filha, você tem uns números meio pesados..." parei, respirei, pensei: "ok, ok... e aí??? O que é que a senhora espera que eu faça?" e a resposta "mude de assinatura nos documentos, mude também o número do seu telefone, o número do seu seguro saúde, o número da sua casa, o número de vezes que você vai ao banheiro...". Parei novamente e pensei: "super simples ...basicamente, tenho que nascer de novo!". Adotei algumas coisas do que ela disse, mas no fim, não fluiu fazer tudo e de quebra ficou uma pulga atrás da minha orelha... o que fazer com aqueles números pesados? O que fazer quando sua vida não é simples? Eu queria uma explicação mas estava tão sugestionada que não forçaria essa resposta até que eu estivesse pronta para olhar o assunto de uma perspectiva mais saudável e destacada.

Então já que a segunda vez aconteceu sem forçar, eu fui despretensiosa ou melhor fui esperando algo meio previsível, seguro e simples que pudesse me esclarecer o que fazer com esses números, era minha única pergunta concreta. Nessa hora meu coração começou a bater como uma britadeira... e toda a estranheza fez sentido. Eu estava indo colocar a mão na merda... Eu não sabia o que estava por vir.



A sessão foi como abrir a porta de um armário de coisas velhas que estavam ali pedindo para ser doadas ao Exército da Salvação. Eram coisas que eu não podia mais ignorar que estavam lá e que eu nao sabia bem o que fazer delas. Encarei o fato de estar gelada frente a um estranho como uma oportunidade de aliviar aquele peso, mesmo que significasse sair da zona de conforto.


Falamos, enxergamos, esclarecemos, não foi fácil nem confortável em nenhum momento... mas depois que saí de lá, algo mudou... para pior e logo depois para melhor... Foi como se algo muito profundo tivesse se transformado sem que eu me desse conta e os números foram a menor parte de tudo. Eu não tenho uma explicação plausível.

Acho meio dispensável dizer que por um momento achei que estivesse louca (e sei que podem estar se perguntando por que eu duvidaria de algo que está mais que comprovado, mas a maioria dos loucos acredita que existe alguma sanindade em si mesmos e eu não sou diferente) e talvez até passando por uma transformacão mutante... fiz perguntas do tipo: "o que estou fazendo na Terra?"e "Por quê?" e logo depois exclamações: "Nada faz sentido!", "Oh Deus quanta merda!"... mas depois de sentir meu corpo cansado e dolorido como se eu tivesse apanhado de agentes da Inteligência Britânica (o tipo de surra que dói mas não deixa marcas) eu dormi, acordei e o dia seguinte começou sem que eu tivesse tempo de pensar muito no meu dia anterior o que me fez considerar que aquilo era proposital.

O que ficou para mim foi ele me dizendo que a maior lição que eu poderia aprender com os australianos é o amar-se a si mesmo e é bem isso... australiano se preocupa pouco ou quase nada com a vida dos outros, se você quiser andar fantasiado de rena, o problema é seu! Você não é melhor ou pior por isso, você é simplesmente uma pessoa com algum motivo para andar na rua como um ajudante do Papai Noel. Nessa mesma noite, quando estava subindo as escadas do prédio escutei no ouvido Eu Preciso Dizer que Te Amo como se o próprio Cazuza estivesse ali cantando para mim e achando tudo aquilo engraçado demais. Cantei junto baixinho e baixei minha guarda.

Eu passei por um mini exorcismo, é verdade, mas como foi para melhor, eu desencanei de ficar com medo. Duvidei dá bênção até o último minuto, mas como sei que sou minha maior ameaça, eu duvidei porque doeu. Eu fiz o melhor que pude para me ajudar e vou fazer enquanto eu tiver tempo para isso! Conselho básico: se está muito parado, desconfie e segure a peruca porque muito provavelmente vai precisar de força nela!.
Talvez eu não consiga apagar as linhas estressadas das palmas das minhas mãos agora, mas eu vejo que um conhecimento retirou um dos muitos véus que cobrem minha visão e alguma claridade me banhou os olhos. Não chorei. Estou um passo mais perto de mim.

O dia está lindo... pelo menos por hoje, viver não dói.

Monday, June 15, 2009

3 GREEN BOTTLES


Antes de desenrolar outro assunto... preciso consertar um erro... o festival que eu fui aqui em Sydney chama Vivid... e não Viva City... alguém me falou esse nome e eu acabei cometendo a gafe... mas como diz Cláudia Matarazzo, Gafe não é pecado!

Pois então... o tal do Vivid rendeu!!!!!!!!! Meninos e meninas, quando a gente reza, o Pai atende! (Por isso, aos meus leitores que recomendaram a macumba do Pai Galo posso dizer que: "Santo Agostinho das Causas Desesperadas foi mais rápido... menos de 24 horas!)
Depois da minha tortura durante a madrugada eu saí o mais rápido possível de casa... atrasada, mas bem vestida e não é que foi uma mão na roda?

Fui encontrar minhas amigas para um programa característico nosso e depois seguimos para encontrar o resto do povo... não sei como, até quem nunca aparece resolveu aparecer e não era espírito... todos bem vivos!!!
Aliás, uma das vantagens de ter um amigo fotógrafo quando a sua auto-estima precisa de um up-grade é que ele consegue te transformar em super modelo em cima de um banco com iluminação índigo no breu do observatório onde costumeiramente serial killers levam suas vítimas pelos cabelos para terminar o serviço... ou seja, ele é assim bom nesse lance de tirar foto!

Quando a gente escutou um rooooooooooonc no estômago de alguém fomos batalhar uma mesa no The Australian!
Três pizzas de canguru depois, topei na hora a idéia de ir na despedida do Músico! Claro o Músico está indo embora em alguns dias de volta para a Terra Brasilis depois de três anos, três meses e três dias... 333 dá 9 que é o fim do ciclo...! O único detalhe é que eu não conhecia o Músico... na verdade, ninguém conhecia o Músico... brincadeira, de todos nós, pelo menos uma pessoa conhecia o moço.

Cheguei lá e foi impossível não ficar feliz! Pela primeira vez em mais de um ano, entro numa balada em que a PRIMEIRONA música que escuto é conhecida! Porque vamos colocar assim... australiano tem um hábito para músicas peculiares quase tão exagerado quanto a maneira de se vestir (citação retirada do diálogo dos meninos de Manly: "o sapato de traveco para combinar com a passada torta de dinossauro andando com aquelas sainhas, mas a gente não reclama, tá ligado???" enfim, isso é assunto para um post inteiro rsrsrs).

Anyways... balada do Músico rolando solta, chego feliz porém tímida e resolvo que depois de ter a mente torturada durante uma madrugada inteira eu não ia permitir a recorrência de tal estress consecutivamente nem que eu tivesse que embriagá-la levemente! E sabe que foi uma ótima idéia!

Entre três dividimos uma garrafa de sparkling da casa (Welcome to the party - Patife moment), deu para relaxar o suficiente para cumprimentar o Músico com aquele sorriso amarelo de muito prazer, desculpa por invadir a sua festa mas no caso estávamos sem uma para ir e como a ocasião faz o ladrão, resolvemos verificar se a regra se aplica a festas alheias ... hehehe deu certo... ele sorriu de volta e descobri que além de gente boa ele também manja de numerologia.


Para variar, encontramos outros conhecidos entre os amigos dele, afinal, brasileiros em Sydney são como uma grande familia (leia-se: se aprontar, você vai cair na boca do povo então, arrume um jeito de pensar com seus neurônios ao invés dos hormônios) e logo de cara já pagamos carão por associação a um determinado membro da família que folgadamente empurrou pessoas no bar a noite inteira para fular fila sem que a gente soubesse... não vem ao caso... mas tenho certeza que a dita cuja tem problema... por isso que tem hora que passar por asiática é uma bênção, eu só fico quieta e me faço de tonta... funciona como um charme!!!


Dançamos, dançamos e dançamos! Uhuuuu fazia tempo que eu não curtia uma balada de verdade... Investimento feminino de mais 30 (What a Wonderful World - Ramones version moment) em outra garrafa de de sparkling (alcohol units divididas, é claro)... opaaa o mundo está bonito e fiquei pensando que talvez os bêbados tivessem uma visão mais bacana do mundo do que os sóbrios... não estou defendendo o alcolismo e muito menos o álcool como fuga da realidade... a realidade é sempre a realidade, mas hoje entendo que o álcool controladamente (entendeu que a palavra controladamente está em negrito?) não tem nada de errado e também tem sua função no mundo...


Antigamente eu não me permitia nem experimentar para afirmar que não gostava, hoje eu sei do que gosto e do que não gosto e por isso sei escolher com alguma sabedoria. E não fico engolindo qualquer coisa porque as pessoas acham chique, brega, isso ou aquilo... não gostei do gosto, não ponho para dentro e poupo meu fígado... o pobre órgão já tem bastante para processar, principalmente quando eu fico nervosa. Regra pessoal, é regra pessoal.


Terceira garrafa...(ahahhahahahah mas eu to rindo à toa... esse momento todo mundo que vai no forró conhece... nem precisa de banda)... "Músico, mandou muito bem! O Dj é muito bom!"

e ele respondeu "Obrigado!" A gente não se despediu nesse dia porque combinamos de fazer meu mapa numerológico depois da balada... e melhor deixar a história do mapa numerológico falar por si só, ou melhor, num próximo post quem sabe!


Meu saldo do dia: inacreditavelmente acabei no lugar certo, na hora certa, sem querer mas porque eu sabia o que queria, e a vida abriu as portas para que eu desse meus passos nessa direção... Foi a primeira vez que tomei um porre, comi uma pizza de canguru, conheci um músico, pousei para um fotógrafo e ganhei um mapa numerológico no mesmo dia!


Minto... ganhei muito mais... ganhei em vida... o sentimento impagável de estar viva e acordar no dia seguinte sem ressaca e sem arrependimentos!

PS... AGURADEM AS CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS... AHAHHAHAHHHA


Thursday, June 11, 2009

Pata Negra e Café Morno


Acordei de manhã mais cedo do que os periquitos que moram na árvore aqui do lado de casa para mais uma vez cumprir minha penitência semanal no programa de gerência do LCB. Não é pela escola em si, mas pelo fato de estar localizada depois de onde Judas perdeu as meias, porque de verdade, as botas já foram faz tempo...
Saio do meu pijama de flanela (minha melhor arma contra esse frio desgraçado) para entrar no meu uniforme de quinta série, perdão, digo, de gerência. Ajusto a gravata (sim, até as mulheres têm que usar gravata, no começo incomoda um pouco, mas depois acostuma-se), escovo os dentes e sem café-da-manhã saio para o ônibus das seis e pouco.

TEC TEC TEC ( batem os dentes dentro da minha boca)! Espero, espero, espero e junto com outras simpáticas pessoas castigadas pela necessidade de tomar condução australiana antes do sol nascer, percebo que a grande bola amarela que determina o começo de mais um dia para os mortais surge brilhante diante da minha cara sonolenta sem diminuir o frio que insiste em transpassar os pontos das minhas três calças sobrepostas.
Exclamo mentalmente:"Mas pô! Que que tá havendo???"
Seis e quinze, nada, seis e vinte nada! E noto que a grande bola amarela não está lá por acaso, já deu a hora dele subir faz tempo!
Percebo as senhorinhas que solidariamente passaram o mesmo frio da madrugada que eu se movimentarem inquietas com a linguagem corporal dizendo "ondé que está o o bloody ônibus? (senhorinhas australianas não falam palavrão e se palavra energúmino tivesse uma tradução literal elas a usariam no lugar da palavra merda (que no caso tem tradução literal).
Mas como não sou australiana, posso me valer de quantos palavrões eu quiser para expressar minha indignação!
E aí, minha louca (e para o horário, preguiçosa) mente feminina começa a se articular... UIIII PERIGO!
Pensamento # 1: curse the bus
Pensamento # 1 e 1/2: pensar na minha cama quentinha
Pensamento # 2: não tenho prova amanhã, tudo feito, não tenho nada importante marcado para hoje e não vão me deixar entrar antes das 10 de qualquer jeito já que vou chegar atrasada...
Pensamento # 3: HA! Com esse frio não vou para aquela lonjura nem a pau Juvenal!!!

E logo em seguida penso de novo: "mas já faltei uma vez sem motivo, os céus podem decidir que se eu faltar hoje, no caso futuro de uma gripe suína ou pata quebrada vou ter que me arrastar para a aula de qualquer jeito para não ser denunciada à imigração e posteriormente deportada como um traficante argentino que que jura que o presunto no porta-malas é um Jamón Pata Negra valiosíssimo e não um ex-cliente angolano.
E lá vai minha mente de novo: "cabular, não cabular, pata quebrada, Pata Negra, traficante argentino, deportação deste corpo para o Brasil, a cara de desgosto da minha mãe, os cabelos brancos do meu pai, ahhhhhhh chega!!!!!! Decidido, Espero o próximo ônibus e se não passar é um sinal divino! Não tenho, ou melhor, não devo ir para Ryde!
Tchan, tchan,tchan,tchan!
Devagar e engasgando chega o busão das 6:35 às 6:45... Subo contrariada por saber que não há uma greve dos motoristas acontecendo e que eu não recebi um sinal divino para voltar a dormir!
ÀS 7:10 chego no centro para pegar o próximo ônibus e correndo pela rua como quem vai tirar a mãe da forca chego no segundo ponto de ônibus UHUUUU o 520 ainda está lá parado no ponto!!!
Chego na porta, mas para variar, ele não abriu porque já tinha aberto uma vez e eu não estava lá... ou seja, mesmo com cara de please sir, please, ele disse que não ia abrir e fiquei no frio mais 20 minutos esperando o próximo! (Vontade de xingar??? imagina...) (Vontade de voltar???... imagina...)
Mas para quem estava no frio com os dedinhos do pé congelados, o meu quase sinal divino foi meio sinal! Então, mesmo semi congelada como um lombo recheado na geladeira e empacotada para viagem como um, eu fui para a aula, atrasada mesmo! E como não iam me deixar entrar antes do morning tea (sim, temos um intervalo com esse nome em pleno século VVI onde a maioria das pessoas dejejuam um cigarro e um café) decidi quebrar a regra do chá e contribuir com os lucros da maior contradição do universo que é a cantina da minha escola de GASTRONOMIA e hospitalidade!
Com isso, quero dizer que o sistema prisional australiano deve comer tão bem quanto os estudantes da minha faculdade, com a diferenca que eles fizeram várias coisas erradas e comem grátis enquanto gente honesta que acorda às 5 da matina para esperar um ônibus que não passou tem que pagar 7 dólares por um café semi quente (sim, esse é o nome que eles dão para morno e ainda se gabam por isso) e uma filo pastry de recheio verde duvidoso.

Enfim, café, massaroca verde e caneta verde em punho, me dei ao luxo de me alojar sem sapatos no sofá da student association para escrever sobre mais um capítulo da minha saga pessoal, divisão - coisas bizarras que acontecem de manhã.

Sei que depois de ler tudo isso espera-se que eu tenha uma conclusão sofisticada e filosóficamente rebuscada mas a minha não é!
Na verdade, prefiro terminar o post com um clichê inventado por algum adolescente com hormônimos e desde já me desculpe pela falta do tão esperado decoro social, mas não consigo encontrar nada mais apropriado que dizer: "Não leve a vida tão a sério porque a gente nasceu de uma gozada!"

Cabule o dia inteiro ou pela metade, num nível seguro de deportação e tome um café morno fazendo algo que de fato dê prazer, como por exemplo, tirar sarro de tudo que deu errado nas primeiras horas da manhã, encher a pança de porcarias e escutar Belanova no último volume enquanto ressucita os dedinhos do pé!


NOTAS PÓS ESCRITAS: No fim do dia o saldo estava positivo, depois da aula que passou mais rápido do que eu imaginava, lotamos o carro do Dervish e fomos para Auburn, o bairro dos turcos muçulmanos comer BAKLAVA fresquinha e experimentar o Kesme Maras, o sorvete deles que tem que ser comido de talheres.
Mais à noite, fui com a Rafa consertar meu cel no Warringah mall e comi sushi!!! Tive cãibra nos pés, mas sussa, dedinhos vivos!


FYI: JAMÓN DE PATA NEGRA ou jamón ibérico alentejano de Portugal, de peso inferior ao jamón ibérico, começou a ser produzido para o público recentemente, quando a indústria local começou a lançar e distribuir o produto fora do âmbito local e familiar.


FYI: JAMÓN IBÉRICO: O jamón ibérico procede do cerdo de raza ibérica. As principais características que o distinguem derivam da pureza da raça dos animais, da criação em regime extensivo de liberdade do porco ibérico eM dehesas arborizadas onde podem mover-se, da alimentação e da curação do jamón, que pode se extender de 8 a 36 meses. O jamón ibérico de pata negra se distingue do resto por sua textura, aroma e sabor singulares e distintos - mesmo o sabor varia segundo o grau de bellota (fruto ibérico de sabor que pode ir do amargo ao doce) que o porco comeu, e do exercício que o animal fez.
Classifica-se geralmente segundo a quantidade de bellota que o animal consumiu antes do sacrificio. A clasificação oficial permitida para os jamones ibéricos os agrupa em:[1] Jamón Ibérico de Cebo, Jamón Ibérico de Cebo Campo, Jamón Ibérico de Recebo y Jamón Ibérico de Bellota.[2]. - CRÉDITO: Wikipedia.

Monday, June 8, 2009

Família, Comida, Cura e Espiritualidade




Acho que eu não conseguiria escrever sem mencionar família, comida, cura e espiritualidade, simplesmente porque desde que me entendo por gente, esses quatro fatores foram arraigados à minha personalidade, quase como um daqueles adesivos que vc passa o ferro em cima e já era, colou para sempre uma foto do Backstreet boys na sua camiseta do Nirvana.

Sou a quarta geração de uma família imigrante no Brasil o que me torna produto não apenas do amor dos meus pais, mas de uma família onde mulheres relativamente pequenas para seus temperamentos cozinham quantidades suficientes para alimentar um pequeno país de terceiro mundo nos fins de semana quando todos falam alto e ao mesmo tempo sobre como resolver os problemas uns dos outros mesmo que a pessoa em questão não tenha sequer pedido intervenção divina silenciosamente.

No meio dessa confusão toda, eu lembro de ter crescido em um ambiente de fartura à mesa e mesmo quando as coisas não estavam fáceis eu me lembro que as refeições eram geralmente um alívio e uma alegria, fazendo sucesso até com paladares mais exigentes.

Depois de sobreviver meus dolorosos anos de adolescência e de terminar minha primeira faculdade de Relações Públicas eu me vi perdida como uma barata inebriada por uma nuvem de Detefom... pequena, perdida e pela primeira vez, sem um plano!

Tentei várias coisas, mas nada deu certo e para dizer a verdade, minha existência passou a ser preocupante a ponto de se tornar o assunto de cabeceira dos meus pais e se eles estavam preocupados, HA SEGURA ESSA! EU TAMBÉM! Precisei de um bom tempo para pensar e então matutei para rever o que eu queria da vida e o que a bendita vida tinha a me oferecer.


Até que em uma das muitas madrugadas que passei em claro com uma bomba de pressão costurada no meu cérebro e a oração de São Francisco na outra, me veio uma luz que não a do meu abajur, sei lá como foi que surgiu, só sei que quando acordei na manhã seguinte estava lá: uma aceleração quase louca que me levava para a cozinha entre flashes de pensamento e eu me lembrei de como eu era feliz nas loucas refeições da minha família e como eu conhecia bem os pratos e sabores. Fucei no armário até desentarrar as receitas mais antigas da minha mãe e finalmente, achei a receita de bolo que mudou minha vida, o bolo de fubá da Leonor.

Eu não sabia ao certo o que estava fazendo nem para onde eu iria, mas me agarrei à primeira idéia que parecia aceitável: assei meu primeiro bolinho!

A partir desse dia, foi como se eu tivesse arrebentado um colar de pérolas, saiu a primeira bolinha, que tornaria a libertação das outras bolinhas uma consequência natural.

E eu amei cada uma das bolinhas!


Quando dei por mim, já estava aceita no Le Cordon Bleu, de malas prontas para a terra da torrada com Vegemite, Sydney, onde me formei Chef Patissiere. Tudo isso porque depois da faculdade, eu não tinha plano e gostava muito de comer!

Uma jornada pessoal


Em novembro de 2007 eu estava me preparando para entrar no meu ano 5, que segundo a numerologia, era o ano da ousadia, então, quando ele finalmente chegou em março de 2008, eu ousei largar a vida ordinária de São Paulo, para mudar para Austrália, literalmente o fim do mundo. Ousei também aprender uma nova profissão (chef patissiere), reaprender a atravessar a rua (em mão inglesa), lavar roupa em saco de roupa sensível para não estragar, tomar complexo B para não acordar mau-humorada, apreciar chás e infusões, assumir minha espiritualidade e minha humanidade passível de erro e acerto.
Fiz as pazes com o meu corpo, com as sardas do meu rosto e agradeci por ter nascido brasileira. Aprendi sobre alimentação orgânica e sobre uma vida saudável e também a comer porcarias com gosto e sem culpa. Aprendi que comida foi feita para nutrir não só o corpo mas também a alma, para fazer as pessoas mais felizes e que nossa relação com comida diz muito mais sobre nós do que julgamos estar exposto. Aprendi que a natureza cura e que pessoas precisam de pessoas.Eu me permiti experimentar o novo: pulei de paraglider na Nova Zelândia, decorei meu quarto de branco, reuni amigos para comer, aluguei meu primeiro apartamento, chorei de solidão, me refiz, caminhei, caminhei e caminhei, fui para a praia numa terça-feira ensolarada, cabulei aula so pelo simples fato de estar de saco cheio, senti nostalgia, presenciei meu melhor amigo assumir a homossexualidade e senti dor, presenciei meu melhor amigo começar a namorar meu outro amigo e senti ciúme, cozinhei para o ex-chefe do namorado do meu melhor amigo e quis comê-lo vivo, fiz planos sobre voltar, fiz planos sobre ficar, sonhei, comprei uma versão do kama sutra para mulheres e gastei dinheiro com revistas femininas e livros de culinária que eu nunca compraria no Brasil, desenhei retratos em carvão, tomei meu primeiro vinho de sobremesa e gostei, tomei uma garrafa de tequila com meus amigos jogando verdade ou desafio, perdi várias vezes e por isso, mandei uma mensagem obscena para um cara da escola, admiti defeitos,comi comida indiana, comi comida persa, comi comida coreana, comi comida paquistanesa, comi comida taiwanesa, comi comida filipina, fiz amizade com uma filipina obstinada, fiz amigos companheiros, me reconciliei com outros amigos, morei com 10 flatmates numa mesma casa caindo aos pedaços, vi cangurus e koalas, dei consultas espirituais, tratei de pessoas, vendi dua pinturas, ganhei uma família diferente da que eu imaginava e nada aconteceu de maneira convencional, da maneira como mostram os filmes. Não foi uma história de filme, mas digna de um livro. A jornada continua e eu continuo a escrever...