Monday, October 5, 2009

Incrível




Impressionante.



Impressionante mesmo é encontrar paz num trecho copiado de um livro saído do coração outrora tocado pelas palavras de alguém, ou simplesmente poder ver que está sol lá fora e que é uma sorte não ser soldado em guerra, escravo de alguém ou vítima de qualquer tipo de abuso que seja.



Impressionante mesmo é a maneira transcendental como o ser humano se cura do passado, das moléstias do presente, de um tombo, de um episódio desses assim, que te faz parar para pensar que o mundo inteiro deve ter desacelerado para olhar, e sentido sua vergonha ou sua dor ou sua resignação silenciosa.



Impressionante é ter coragem de sair, de começar de novo, de terminar, de perguntar, de abrir os olhos, de fechá-los; quando os inúmeros julgamentos sociais te silenciam, te ignoram ou te sufocam.



Impressionante é ainda ser capaz de se emocionar quando a loucura dos homens te arrebatou por inteiro, estraçalhou sua noção de realidade, seu senso de espaço e direção. Tudo isso por um pedaço de carne ou pelo simples fato de que seu nome ou o título que te deram sei lá por qual razão passa por cima do seu discernimento entre certo e errado, aquele discernimento interno que vem no pacote de ser humano.



E acho até engraçado as pessoas que saem por aí falando que não existe certo e errado, que são apenas escolhas diferentes (devagar aí... uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa). Todo mundo que tem filho, irmão mais novo, primo mais novo, afilhado e sei lá mais o que, ensina que é errado roubar, desrespeitar, extorquir, trair e chantagear... mas talvez, o que me preocupe mais é saber que quando eles forem experimentar o mundo por si mesmos vão encontrar uma realidade diferente daquela que foram ensinados a praticar.



Para mim, se certo e errado não existisse a gente não passaria tanto tempo tentando fazer a escolha certa e não se sentiria tão mal quando faz algo errado.



Em pleno século XXI, enquanto o homem estuda o espaço inter-atômico do DNA ainda engatinhamos para exercitar o perdão sincero, a gratidão que é um sentimento vindo da graça e a compaixão que é o ato de se colocar no lugar do outro antes de atirar uma pedra, soltar veneno pela boca ou negligenciar as necessidades de alguém. Mais que isso, é ver que bondade genuína soa para a maioria dos grupos mais descolados e/ou cocainados da cidade como uma frase de para-choque de caminhão, mais precisamente um clichê politicamente correto.



Impressionante é ver que tem gente tão absorta num problema que não vê que o verdadeiro problema está no coração e não na cabeça e muito menos nos outros. Que o pior tipo de incompetência é não saber dar e se permitir uma coisa que está aí como característica inerente: amor.
Não estou falando só do amor pelo próximo (porque disso já escreveram tantas e tantas vezes) estou falando do amor por você mesmo, pela sua naturalidade, pela grandiosidade que permite com que você seja, inexoravelmente a melhor versão de si mesmo, livre dos conceitos estereotipados das revistas, das grotescas mentiras que se conta para si mesmo ou das falácias maldosas da amiga que está sempre na moda, andando com as pessoas certas e que adora poder.



Me pego pensando que enquanto a gente tem que provar que é honesto o bastante, inteligente o bastante, qualificado o bastante, limpo o bastante, bonito o bastante, agradável o bastante, o tempo está passando e quando velhos e cansados, mortos e em espírito, tudo aquilo pelo qual derramamos sangue e lágrimas significa exatamente nada se você não usou o que te foi dado para o bem.



Por isso, por experiência própria, entendi que não se deve fazer nada por obrigação ou compromisso porque a gente não deve atar o outro às nossas escolhas, nem se atar às escolhas dos outros. É mais justo para as partes fazer porque quer, estar ali porque quer e ao escolher estar ali, estar por inteiro e não pela metade.



O cotidiano deve ser mais divertido e bonito do que realmente é porque ao invés de apenas ler sobre as grandes jornadas dos homens, é possível fazê-las, viver tudo aquilo que está nos livros, conversar com gente diferente, dormir na praia e acordar no alto de uma montanha nevada. Sair do centro para encontrar o próprio centro. O dentro profundo onde retomamos nossa condição de liberdade.



Encorajo quem passa por mim a viajar e ver o mundo com os próprios olhos, escrever seu próprio diário. Encorajo a experimentar viver numa cidade diferente, a fazer uma horta, comer aquilo que plantou, pelo menos uma vez na vida para saber como dá trabalho fazer crescer um repolho que é de onde os pais dizem que vêm os filhos. E apoio comprar de artistas desconhecidos e desapegados para incentivar o novo, e gosto de produtores responsáveis e simples que deixam as galinhas serem galinhas e apagam a luz quando fica de noite.



Tudo isso porque hoje o mundo está de um jeito e espero que amanhã esteja melhor.



Espero sinceramente que amanhã não tenham que gastar milhões para dizer para as pessoas que matar alguém não é legal, que grandes corporações têm matado legalmente um monte de gente por causa de pedaços de papel com cara de presidentes assassinados e espécies em extinção, que quando você joga lixo na rua os bueiros mal projetados das grandes cidades entopem e alagam o consultório da minha irmã e a casa da sua mãe e que muito provavelmente esse lixo ainda vai estar no mesmo lugar na sua próxima encarnação.



Espero que amanhã, meus filhos não tenham que imigrar para saber o que é correr livre num parque e voltar tranquilos para casa depois das seis sem ter que pegar um engarrafamento ou pensar em vinte maneiras de evitar um assalto. Espero que não tenhamos que tocar mais nesse tipo de assunto e que todo nosso tempo seja para discutir onde podemos melhorar e não onde continuamos errando.



Impressionante é ver gente com a qual poucos falariam oferecendo uma mão, e que quem você nunca esperou que fosse estar ali ao seu lado quando você nunca imaginou estar em determinada situação, acabou de fato dividindo seu assunto de cabeceira e compartilhando dos seus sonhos e pratos de macarrão.


Impressionante é ver irmão tirando do irmão por vaidade ou cruel ambição e ver gente que tem muito pouco ou quase nada dar tudo o que tem porque fora da caridade pouca coisa faz sentido. E tudo aquilo que agride, complexos, distúrbios, paradoxos abandonam o que são porque nem eles mesmos vêem sentido e pedem paz.

Paz para tomar decisões melhores e mais conscientes, paz para caminhar, para se apaixonar, para lavar a boca, voltar atrás, chutar o balde, entender qual face assume qual momento, paz para viver inspirado, para gritar, cantar ou calar, paz para ceder, paz para ser alguém nesse mar de 4 bilhões e mais alguns.

Impressionante é saber que ás vezes tudo o que se pode fazer é contar uma história, mostrar as fotos e os filmes, esperando que quem veja e/ou escute aprenda alguma coisa com ela e seja melhor. Não pelos outros mas por si mesmo e consequentemente para os outros, se assim desejar.



Impressionante é como a vida é imprevisível e que mesmo assim existe uma canção certa para cada ocasião. Impressionante se espantar e comover com o humano, com o coração que bate, com as mão que dão forma à humanidade,com aquilo que se pode fazer e escolher.


Impressionante, não...incrível! Como tudo aquilo que é possível amar. Incrível como nosso futuro.

3 comments:

Anonymous said...

So Coolllll
Eh seu texto???
Bjooo
Ra

MaMoriMata said...

Yes mamn! Foi um curto parto de dois dias para nascer esse filho! Mas nasceu! Amei construir o texto!

SPEKTRUM said...

Genial tudo isto que estou a ler até agora!!
Tem tanta coisa que eu penso da mesma forma!
Adoro a forma rebelde como escreve, mas que ao mesmo tempo tem valores de educação brutais!!
Amo este blog!
Ganhou em mim um admirador!!
Gonçalo Coelho!!!