Thursday, June 25, 2009

Lixo de banheiro é um desabafo



Preciso desabafar... não adianta... estou tensa... duas palavras para vocês: MY PRECIOUS!


Se você assistiu ao Senhor dos Anéis sabe de quem eu estou falando, na verdade, postar isso é como ser protagonista de Risco Duplo e rezar para não me pegarem... pois então, imagine o Smeagol em versão feminina te enchendo a paciência a ponto de fazer do seu quarto uma jaula... tudo para não ter que escutar a mania incessante de reclamar de tudo... pois é... MY PRECIOUS ressucitou... para fazer da minha rotina, digo, a do Frodo uma batalha!


Meu pai sempre me ensinou que crítica por si só nunca é construtiva porque não oferece solução... lembra daquele processo diga uma coisa boa, depois vomite o ruim e termine com a sobremesa: algo doce e agradável... se a gente só vomita o ruim, dificilmente as pessoas vão querer voltar ao restaurante... e isso é com tudo na vida.

Aprendi quebrando a cara que gente que reclama muito passa a vida inteira reclamando e ninguém gosta de gente assim. Reclamar é doença.

Ou seja, quem reclama de tudo e critica os outros afasta as pessoas, porque chega um ponto que por mais que se goste do reclamante, a situação fica insustentável e para não ouvir mais a respeito e preservar a convivência, o silêncio é a saída.

Nesse trajeto rumo à solidão são sacrificados os melhores momentos que se pode ter com alguém, sacrifica-se a amizade, a camaradagem, a compreensão com o outro e mesmo a capacidade de enxergar e valorizar coisas boas que são feitas todos os dias.

As pessoas vão se fechando por não saber como lidar.

Minha mãe sempre disse que solidão é triste e que gente sozinha tem mania de se apegar às coisas, de ficar metódico e severo com parâmetros, ou seja, fica um chato.

Pior que isso é só saber falar de si mesmo e querer que os outros falem de você, egocentrismo, está ligado? Não importa se a conversa é sobre o jardim da Flor, a pessoa, no caso, falará do SEU vaso de orégano.

My Precious ganhou esse apelido dos meus amigos, sem que eu tivesse dito uma só palavra e o negócio pegou de tal forma que não falam mais o nome da dita cuja... é My precious pra lá, My Precious pra cá e enquanto eu estava sofrendo em silêncio, todo mundo já tinha percebido...

Eu não estou sabendo muito bem o que fazer, segundo minha irmã "faça cara de palmeira... você sabe como é, não sabe?". Pois então... estou correndo o risco de criar raízes na sala e derrubar um coco, pois essa é a única cara que estou usando ultimamente... abanando minha folhagem.

Conviver com alguém de perto é isso... você acaba descobrindo que sem maquiagem todo mundo tem defeito, o bizarro é que dá para entender exatamente o que faz as pessoas correrem dela... eu mesma correria. Não pelos defeitos em si, mas por não permitir que o outro também tenha os seus próprios defeitos e seu tempo para lidar com eles. Acho que isso é o que assusta mais.

No começo, achava que fossem hormônios, vulnerabilidade, qualquer fator assim e ficava que nem uma tonta agradando para não desagradar. Mas depois passou a ser simplesmente um chute no peito essa coisa de ser imprevisível e querer controlar os outros, você sofre e fica quieto sem saber de onde veio. Quando a gente fica tolhindo a liberdade do outro, a vida vira uma obsessão e o menor gesto como acender ou apagar uma luz provoca terror. Ou seja, estava mesmo aterrorizada... não acendia a luz porque gastava luz, se apagava a luz também estava ruim porque ia queimar a lâmpada. Me explica???
Depois tem o lance do lixo de banheiro... não temos lixeira no banheiro porque My Precious doesn't like it, tínhamos um saquinho transparente... agora me fala se o seu lixo de banheiro ficasse ali para excrutínio público, como você se sentiria quando expostos estivessem seus cotonetes usados, seu fio dental, as unhas cortadas, etc, etc, etc...

No fim, precisei desabafar e me dar ao luxo de comunicar minha decisão de apertar aquela popular tecla do sistema quando seu cérebro foi violentado na horizontal, na vertical e na diagonal tentando achar uma solução diplomática, não restando saída, lanço mão do FODA-SE... Porque: não é da minha conta redimir os outros, não exijo que andem com as mãos ao invés dos pés, aprendi a pedir e a fazer por mim mesma se me incomoda. Não dou no saco de ninguém de graça, MAS SE VÃO POUPAR A VIDA DO BANDIDO, NÃO MEXA COM OS MEUS DIREITOS HUMANOS... Cada um sabe onde dói o calo. Hoje tenho uma noção exata que é exatamente pelo amor que a gente quer trazer para as nossas vidas que temos que nos melhorar, fingir de santa não adianta, vão te pegar no pulo principalmente se a sua trilha sonora for "por fora bela viola, por dentro pão bolorento"!!! Sou macaca velha nesse negócio de viver na Terra e aprendi que: se está na Terra é porque tem defeito! Então não me venha apontando o dedo porque olha só... meus dentes são pequenos, mas eu sei morder!

Cada um corre sua maratona no seu ritmo por isso chatos de saco, estudem a história do liberalismo "laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde va de lui même" - "deixa fazer, deixa ir, deixa passar que o mundo vai por si mesmo" e por favor, deixem a lixeira no banheiro, eu comprei para isso.

Monday, June 22, 2009

Mais Perto de Mim



WARNING!!! OLHEM SÓ, ESTOU AVISANDO ANTES: TIVE UMA SEMANA DO BARALHO E CONSEQUENTEMENTE MEU POST ESTÁ UM TANTO INTANGÍVEL. VOU FALAR DE NUMEROLOGIA, ENTÃO SE VOCÊ É DO TIPO QUE SE OFENDE OU ACHA QUE SOU BRUXA, MACUMBEIRA (REALMENTE NÃO ME IMPORTO) OU ACREDITA QUE MEU DESTINO MERECIDO É O INFERNO REITERO QUE: "QUEM DESEJA TAL FIM PARA UM IRMÃO VAI DESCER COMIGO NO MESMO ELEVADOR" E ESSA É MINHA INTERPRETAÇÃO DE MOISÉS NO VELHO TESTAMENTO!



Quatro dias depois... é faz só quatro dias desde sexta-feira... bendita sexta-feira!

Não vou mentir que essa semana foi bem bizarra, até quinta-feira, uma calmaria supeita... daquelas que a gente não entende muito bem o que está querendo dizer. Foi tanto estranha que eu não consegui uma mísera inspiração para postar.

As tentativas foram tão inúteis quanto escrever um anúncio para os classificados de automóveis de domingo, aqueles do tipo em que se tem três linhas de dois centímetros para definir quão maravilhoso é seu Gol turbo plus supercharge total flex 2007 e percebe que gastou mais de duas horas tentando decidir qual adjetivo o descreve melhor... se é o turbo, se é o total flex, se é o supercharge e acaba decidindo por "bolinha prata" que é literalmente como tomar uma bolada na cabeça, ou seja, já que não ia dar samba melhor descer da plataforma e calçar as sandálias da humildade... então esperei para ver se o resto da semana explicaria minha inexplicada inquietude.

Nesse meio tempo choveu o mundo... para variar lá vamos nós re-lavar a roupa que ensopou na sacada após ter sido deixada por inocentes 20 minutos sem supervisão de um adulto... aliás, quem estou querendo enganar, sou eu quem cuida da roupa então, teoricamente a história do adulto fica meio surreal.

Enfim, eu estava me sentindo estranha (daquele jeito estranho que só uma mulher sabe como é e que não adianta tentar explicar, e antes que coloquem a culpa na tpm, vou logo dizendo: "não estava de tpm!" )...Cara tem dias que a mulherada está estranha e pronto... não adianta ficar ficar perguntado o que que está acontecendo. Aliás, um recado para os homens: se vocês têm amor pelas esferas responsáveis pela perpetuação de sua linhagem entre os mortais não digam nunca a palavra proibida"calma" a uma mulher num momento estranho porque ela pode decidir que não é tão importante assim que você continue a procriar e os mastigue como chiclete...(sanguinária??? imagina...) só estou esclarecendo uma questão de auto preservação.

Moving on... a quinta-feira passou arrastada... chegou sexta... dia do mapa numerológico... acordei animada e fui encontrar com o Músico. Cheguei atrasada... demorei para encontrá-lo, comecei automaticamente achar que "não é para ser! Simples, não é para ser e pronto!". Tremo como uma vara verde!

Me deu um puta nervoso quando chegou a hora de mexer nos números de novo... Lembrei da primeira e única vez qu eu fiz numerologia antes e lembrei também que saí inconformada com o que a mulher me disse: "então filha, você tem uns números meio pesados..." parei, respirei, pensei: "ok, ok... e aí??? O que é que a senhora espera que eu faça?" e a resposta "mude de assinatura nos documentos, mude também o número do seu telefone, o número do seu seguro saúde, o número da sua casa, o número de vezes que você vai ao banheiro...". Parei novamente e pensei: "super simples ...basicamente, tenho que nascer de novo!". Adotei algumas coisas do que ela disse, mas no fim, não fluiu fazer tudo e de quebra ficou uma pulga atrás da minha orelha... o que fazer com aqueles números pesados? O que fazer quando sua vida não é simples? Eu queria uma explicação mas estava tão sugestionada que não forçaria essa resposta até que eu estivesse pronta para olhar o assunto de uma perspectiva mais saudável e destacada.

Então já que a segunda vez aconteceu sem forçar, eu fui despretensiosa ou melhor fui esperando algo meio previsível, seguro e simples que pudesse me esclarecer o que fazer com esses números, era minha única pergunta concreta. Nessa hora meu coração começou a bater como uma britadeira... e toda a estranheza fez sentido. Eu estava indo colocar a mão na merda... Eu não sabia o que estava por vir.



A sessão foi como abrir a porta de um armário de coisas velhas que estavam ali pedindo para ser doadas ao Exército da Salvação. Eram coisas que eu não podia mais ignorar que estavam lá e que eu nao sabia bem o que fazer delas. Encarei o fato de estar gelada frente a um estranho como uma oportunidade de aliviar aquele peso, mesmo que significasse sair da zona de conforto.


Falamos, enxergamos, esclarecemos, não foi fácil nem confortável em nenhum momento... mas depois que saí de lá, algo mudou... para pior e logo depois para melhor... Foi como se algo muito profundo tivesse se transformado sem que eu me desse conta e os números foram a menor parte de tudo. Eu não tenho uma explicação plausível.

Acho meio dispensável dizer que por um momento achei que estivesse louca (e sei que podem estar se perguntando por que eu duvidaria de algo que está mais que comprovado, mas a maioria dos loucos acredita que existe alguma sanindade em si mesmos e eu não sou diferente) e talvez até passando por uma transformacão mutante... fiz perguntas do tipo: "o que estou fazendo na Terra?"e "Por quê?" e logo depois exclamações: "Nada faz sentido!", "Oh Deus quanta merda!"... mas depois de sentir meu corpo cansado e dolorido como se eu tivesse apanhado de agentes da Inteligência Britânica (o tipo de surra que dói mas não deixa marcas) eu dormi, acordei e o dia seguinte começou sem que eu tivesse tempo de pensar muito no meu dia anterior o que me fez considerar que aquilo era proposital.

O que ficou para mim foi ele me dizendo que a maior lição que eu poderia aprender com os australianos é o amar-se a si mesmo e é bem isso... australiano se preocupa pouco ou quase nada com a vida dos outros, se você quiser andar fantasiado de rena, o problema é seu! Você não é melhor ou pior por isso, você é simplesmente uma pessoa com algum motivo para andar na rua como um ajudante do Papai Noel. Nessa mesma noite, quando estava subindo as escadas do prédio escutei no ouvido Eu Preciso Dizer que Te Amo como se o próprio Cazuza estivesse ali cantando para mim e achando tudo aquilo engraçado demais. Cantei junto baixinho e baixei minha guarda.

Eu passei por um mini exorcismo, é verdade, mas como foi para melhor, eu desencanei de ficar com medo. Duvidei dá bênção até o último minuto, mas como sei que sou minha maior ameaça, eu duvidei porque doeu. Eu fiz o melhor que pude para me ajudar e vou fazer enquanto eu tiver tempo para isso! Conselho básico: se está muito parado, desconfie e segure a peruca porque muito provavelmente vai precisar de força nela!.
Talvez eu não consiga apagar as linhas estressadas das palmas das minhas mãos agora, mas eu vejo que um conhecimento retirou um dos muitos véus que cobrem minha visão e alguma claridade me banhou os olhos. Não chorei. Estou um passo mais perto de mim.

O dia está lindo... pelo menos por hoje, viver não dói.

Monday, June 15, 2009

3 GREEN BOTTLES


Antes de desenrolar outro assunto... preciso consertar um erro... o festival que eu fui aqui em Sydney chama Vivid... e não Viva City... alguém me falou esse nome e eu acabei cometendo a gafe... mas como diz Cláudia Matarazzo, Gafe não é pecado!

Pois então... o tal do Vivid rendeu!!!!!!!!! Meninos e meninas, quando a gente reza, o Pai atende! (Por isso, aos meus leitores que recomendaram a macumba do Pai Galo posso dizer que: "Santo Agostinho das Causas Desesperadas foi mais rápido... menos de 24 horas!)
Depois da minha tortura durante a madrugada eu saí o mais rápido possível de casa... atrasada, mas bem vestida e não é que foi uma mão na roda?

Fui encontrar minhas amigas para um programa característico nosso e depois seguimos para encontrar o resto do povo... não sei como, até quem nunca aparece resolveu aparecer e não era espírito... todos bem vivos!!!
Aliás, uma das vantagens de ter um amigo fotógrafo quando a sua auto-estima precisa de um up-grade é que ele consegue te transformar em super modelo em cima de um banco com iluminação índigo no breu do observatório onde costumeiramente serial killers levam suas vítimas pelos cabelos para terminar o serviço... ou seja, ele é assim bom nesse lance de tirar foto!

Quando a gente escutou um rooooooooooonc no estômago de alguém fomos batalhar uma mesa no The Australian!
Três pizzas de canguru depois, topei na hora a idéia de ir na despedida do Músico! Claro o Músico está indo embora em alguns dias de volta para a Terra Brasilis depois de três anos, três meses e três dias... 333 dá 9 que é o fim do ciclo...! O único detalhe é que eu não conhecia o Músico... na verdade, ninguém conhecia o Músico... brincadeira, de todos nós, pelo menos uma pessoa conhecia o moço.

Cheguei lá e foi impossível não ficar feliz! Pela primeira vez em mais de um ano, entro numa balada em que a PRIMEIRONA música que escuto é conhecida! Porque vamos colocar assim... australiano tem um hábito para músicas peculiares quase tão exagerado quanto a maneira de se vestir (citação retirada do diálogo dos meninos de Manly: "o sapato de traveco para combinar com a passada torta de dinossauro andando com aquelas sainhas, mas a gente não reclama, tá ligado???" enfim, isso é assunto para um post inteiro rsrsrs).

Anyways... balada do Músico rolando solta, chego feliz porém tímida e resolvo que depois de ter a mente torturada durante uma madrugada inteira eu não ia permitir a recorrência de tal estress consecutivamente nem que eu tivesse que embriagá-la levemente! E sabe que foi uma ótima idéia!

Entre três dividimos uma garrafa de sparkling da casa (Welcome to the party - Patife moment), deu para relaxar o suficiente para cumprimentar o Músico com aquele sorriso amarelo de muito prazer, desculpa por invadir a sua festa mas no caso estávamos sem uma para ir e como a ocasião faz o ladrão, resolvemos verificar se a regra se aplica a festas alheias ... hehehe deu certo... ele sorriu de volta e descobri que além de gente boa ele também manja de numerologia.


Para variar, encontramos outros conhecidos entre os amigos dele, afinal, brasileiros em Sydney são como uma grande familia (leia-se: se aprontar, você vai cair na boca do povo então, arrume um jeito de pensar com seus neurônios ao invés dos hormônios) e logo de cara já pagamos carão por associação a um determinado membro da família que folgadamente empurrou pessoas no bar a noite inteira para fular fila sem que a gente soubesse... não vem ao caso... mas tenho certeza que a dita cuja tem problema... por isso que tem hora que passar por asiática é uma bênção, eu só fico quieta e me faço de tonta... funciona como um charme!!!


Dançamos, dançamos e dançamos! Uhuuuu fazia tempo que eu não curtia uma balada de verdade... Investimento feminino de mais 30 (What a Wonderful World - Ramones version moment) em outra garrafa de de sparkling (alcohol units divididas, é claro)... opaaa o mundo está bonito e fiquei pensando que talvez os bêbados tivessem uma visão mais bacana do mundo do que os sóbrios... não estou defendendo o alcolismo e muito menos o álcool como fuga da realidade... a realidade é sempre a realidade, mas hoje entendo que o álcool controladamente (entendeu que a palavra controladamente está em negrito?) não tem nada de errado e também tem sua função no mundo...


Antigamente eu não me permitia nem experimentar para afirmar que não gostava, hoje eu sei do que gosto e do que não gosto e por isso sei escolher com alguma sabedoria. E não fico engolindo qualquer coisa porque as pessoas acham chique, brega, isso ou aquilo... não gostei do gosto, não ponho para dentro e poupo meu fígado... o pobre órgão já tem bastante para processar, principalmente quando eu fico nervosa. Regra pessoal, é regra pessoal.


Terceira garrafa...(ahahhahahahah mas eu to rindo à toa... esse momento todo mundo que vai no forró conhece... nem precisa de banda)... "Músico, mandou muito bem! O Dj é muito bom!"

e ele respondeu "Obrigado!" A gente não se despediu nesse dia porque combinamos de fazer meu mapa numerológico depois da balada... e melhor deixar a história do mapa numerológico falar por si só, ou melhor, num próximo post quem sabe!


Meu saldo do dia: inacreditavelmente acabei no lugar certo, na hora certa, sem querer mas porque eu sabia o que queria, e a vida abriu as portas para que eu desse meus passos nessa direção... Foi a primeira vez que tomei um porre, comi uma pizza de canguru, conheci um músico, pousei para um fotógrafo e ganhei um mapa numerológico no mesmo dia!


Minto... ganhei muito mais... ganhei em vida... o sentimento impagável de estar viva e acordar no dia seguinte sem ressaca e sem arrependimentos!

PS... AGURADEM AS CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS... AHAHHAHAHHHA


Thursday, June 11, 2009

Pata Negra e Café Morno


Acordei de manhã mais cedo do que os periquitos que moram na árvore aqui do lado de casa para mais uma vez cumprir minha penitência semanal no programa de gerência do LCB. Não é pela escola em si, mas pelo fato de estar localizada depois de onde Judas perdeu as meias, porque de verdade, as botas já foram faz tempo...
Saio do meu pijama de flanela (minha melhor arma contra esse frio desgraçado) para entrar no meu uniforme de quinta série, perdão, digo, de gerência. Ajusto a gravata (sim, até as mulheres têm que usar gravata, no começo incomoda um pouco, mas depois acostuma-se), escovo os dentes e sem café-da-manhã saio para o ônibus das seis e pouco.

TEC TEC TEC ( batem os dentes dentro da minha boca)! Espero, espero, espero e junto com outras simpáticas pessoas castigadas pela necessidade de tomar condução australiana antes do sol nascer, percebo que a grande bola amarela que determina o começo de mais um dia para os mortais surge brilhante diante da minha cara sonolenta sem diminuir o frio que insiste em transpassar os pontos das minhas três calças sobrepostas.
Exclamo mentalmente:"Mas pô! Que que tá havendo???"
Seis e quinze, nada, seis e vinte nada! E noto que a grande bola amarela não está lá por acaso, já deu a hora dele subir faz tempo!
Percebo as senhorinhas que solidariamente passaram o mesmo frio da madrugada que eu se movimentarem inquietas com a linguagem corporal dizendo "ondé que está o o bloody ônibus? (senhorinhas australianas não falam palavrão e se palavra energúmino tivesse uma tradução literal elas a usariam no lugar da palavra merda (que no caso tem tradução literal).
Mas como não sou australiana, posso me valer de quantos palavrões eu quiser para expressar minha indignação!
E aí, minha louca (e para o horário, preguiçosa) mente feminina começa a se articular... UIIII PERIGO!
Pensamento # 1: curse the bus
Pensamento # 1 e 1/2: pensar na minha cama quentinha
Pensamento # 2: não tenho prova amanhã, tudo feito, não tenho nada importante marcado para hoje e não vão me deixar entrar antes das 10 de qualquer jeito já que vou chegar atrasada...
Pensamento # 3: HA! Com esse frio não vou para aquela lonjura nem a pau Juvenal!!!

E logo em seguida penso de novo: "mas já faltei uma vez sem motivo, os céus podem decidir que se eu faltar hoje, no caso futuro de uma gripe suína ou pata quebrada vou ter que me arrastar para a aula de qualquer jeito para não ser denunciada à imigração e posteriormente deportada como um traficante argentino que que jura que o presunto no porta-malas é um Jamón Pata Negra valiosíssimo e não um ex-cliente angolano.
E lá vai minha mente de novo: "cabular, não cabular, pata quebrada, Pata Negra, traficante argentino, deportação deste corpo para o Brasil, a cara de desgosto da minha mãe, os cabelos brancos do meu pai, ahhhhhhh chega!!!!!! Decidido, Espero o próximo ônibus e se não passar é um sinal divino! Não tenho, ou melhor, não devo ir para Ryde!
Tchan, tchan,tchan,tchan!
Devagar e engasgando chega o busão das 6:35 às 6:45... Subo contrariada por saber que não há uma greve dos motoristas acontecendo e que eu não recebi um sinal divino para voltar a dormir!
ÀS 7:10 chego no centro para pegar o próximo ônibus e correndo pela rua como quem vai tirar a mãe da forca chego no segundo ponto de ônibus UHUUUU o 520 ainda está lá parado no ponto!!!
Chego na porta, mas para variar, ele não abriu porque já tinha aberto uma vez e eu não estava lá... ou seja, mesmo com cara de please sir, please, ele disse que não ia abrir e fiquei no frio mais 20 minutos esperando o próximo! (Vontade de xingar??? imagina...) (Vontade de voltar???... imagina...)
Mas para quem estava no frio com os dedinhos do pé congelados, o meu quase sinal divino foi meio sinal! Então, mesmo semi congelada como um lombo recheado na geladeira e empacotada para viagem como um, eu fui para a aula, atrasada mesmo! E como não iam me deixar entrar antes do morning tea (sim, temos um intervalo com esse nome em pleno século VVI onde a maioria das pessoas dejejuam um cigarro e um café) decidi quebrar a regra do chá e contribuir com os lucros da maior contradição do universo que é a cantina da minha escola de GASTRONOMIA e hospitalidade!
Com isso, quero dizer que o sistema prisional australiano deve comer tão bem quanto os estudantes da minha faculdade, com a diferenca que eles fizeram várias coisas erradas e comem grátis enquanto gente honesta que acorda às 5 da matina para esperar um ônibus que não passou tem que pagar 7 dólares por um café semi quente (sim, esse é o nome que eles dão para morno e ainda se gabam por isso) e uma filo pastry de recheio verde duvidoso.

Enfim, café, massaroca verde e caneta verde em punho, me dei ao luxo de me alojar sem sapatos no sofá da student association para escrever sobre mais um capítulo da minha saga pessoal, divisão - coisas bizarras que acontecem de manhã.

Sei que depois de ler tudo isso espera-se que eu tenha uma conclusão sofisticada e filosóficamente rebuscada mas a minha não é!
Na verdade, prefiro terminar o post com um clichê inventado por algum adolescente com hormônimos e desde já me desculpe pela falta do tão esperado decoro social, mas não consigo encontrar nada mais apropriado que dizer: "Não leve a vida tão a sério porque a gente nasceu de uma gozada!"

Cabule o dia inteiro ou pela metade, num nível seguro de deportação e tome um café morno fazendo algo que de fato dê prazer, como por exemplo, tirar sarro de tudo que deu errado nas primeiras horas da manhã, encher a pança de porcarias e escutar Belanova no último volume enquanto ressucita os dedinhos do pé!


NOTAS PÓS ESCRITAS: No fim do dia o saldo estava positivo, depois da aula que passou mais rápido do que eu imaginava, lotamos o carro do Dervish e fomos para Auburn, o bairro dos turcos muçulmanos comer BAKLAVA fresquinha e experimentar o Kesme Maras, o sorvete deles que tem que ser comido de talheres.
Mais à noite, fui com a Rafa consertar meu cel no Warringah mall e comi sushi!!! Tive cãibra nos pés, mas sussa, dedinhos vivos!


FYI: JAMÓN DE PATA NEGRA ou jamón ibérico alentejano de Portugal, de peso inferior ao jamón ibérico, começou a ser produzido para o público recentemente, quando a indústria local começou a lançar e distribuir o produto fora do âmbito local e familiar.


FYI: JAMÓN IBÉRICO: O jamón ibérico procede do cerdo de raza ibérica. As principais características que o distinguem derivam da pureza da raça dos animais, da criação em regime extensivo de liberdade do porco ibérico eM dehesas arborizadas onde podem mover-se, da alimentação e da curação do jamón, que pode se extender de 8 a 36 meses. O jamón ibérico de pata negra se distingue do resto por sua textura, aroma e sabor singulares e distintos - mesmo o sabor varia segundo o grau de bellota (fruto ibérico de sabor que pode ir do amargo ao doce) que o porco comeu, e do exercício que o animal fez.
Classifica-se geralmente segundo a quantidade de bellota que o animal consumiu antes do sacrificio. A clasificação oficial permitida para os jamones ibéricos os agrupa em:[1] Jamón Ibérico de Cebo, Jamón Ibérico de Cebo Campo, Jamón Ibérico de Recebo y Jamón Ibérico de Bellota.[2]. - CRÉDITO: Wikipedia.

Monday, June 8, 2009

Família, Comida, Cura e Espiritualidade




Acho que eu não conseguiria escrever sem mencionar família, comida, cura e espiritualidade, simplesmente porque desde que me entendo por gente, esses quatro fatores foram arraigados à minha personalidade, quase como um daqueles adesivos que vc passa o ferro em cima e já era, colou para sempre uma foto do Backstreet boys na sua camiseta do Nirvana.

Sou a quarta geração de uma família imigrante no Brasil o que me torna produto não apenas do amor dos meus pais, mas de uma família onde mulheres relativamente pequenas para seus temperamentos cozinham quantidades suficientes para alimentar um pequeno país de terceiro mundo nos fins de semana quando todos falam alto e ao mesmo tempo sobre como resolver os problemas uns dos outros mesmo que a pessoa em questão não tenha sequer pedido intervenção divina silenciosamente.

No meio dessa confusão toda, eu lembro de ter crescido em um ambiente de fartura à mesa e mesmo quando as coisas não estavam fáceis eu me lembro que as refeições eram geralmente um alívio e uma alegria, fazendo sucesso até com paladares mais exigentes.

Depois de sobreviver meus dolorosos anos de adolescência e de terminar minha primeira faculdade de Relações Públicas eu me vi perdida como uma barata inebriada por uma nuvem de Detefom... pequena, perdida e pela primeira vez, sem um plano!

Tentei várias coisas, mas nada deu certo e para dizer a verdade, minha existência passou a ser preocupante a ponto de se tornar o assunto de cabeceira dos meus pais e se eles estavam preocupados, HA SEGURA ESSA! EU TAMBÉM! Precisei de um bom tempo para pensar e então matutei para rever o que eu queria da vida e o que a bendita vida tinha a me oferecer.


Até que em uma das muitas madrugadas que passei em claro com uma bomba de pressão costurada no meu cérebro e a oração de São Francisco na outra, me veio uma luz que não a do meu abajur, sei lá como foi que surgiu, só sei que quando acordei na manhã seguinte estava lá: uma aceleração quase louca que me levava para a cozinha entre flashes de pensamento e eu me lembrei de como eu era feliz nas loucas refeições da minha família e como eu conhecia bem os pratos e sabores. Fucei no armário até desentarrar as receitas mais antigas da minha mãe e finalmente, achei a receita de bolo que mudou minha vida, o bolo de fubá da Leonor.

Eu não sabia ao certo o que estava fazendo nem para onde eu iria, mas me agarrei à primeira idéia que parecia aceitável: assei meu primeiro bolinho!

A partir desse dia, foi como se eu tivesse arrebentado um colar de pérolas, saiu a primeira bolinha, que tornaria a libertação das outras bolinhas uma consequência natural.

E eu amei cada uma das bolinhas!


Quando dei por mim, já estava aceita no Le Cordon Bleu, de malas prontas para a terra da torrada com Vegemite, Sydney, onde me formei Chef Patissiere. Tudo isso porque depois da faculdade, eu não tinha plano e gostava muito de comer!

Uma jornada pessoal


Em novembro de 2007 eu estava me preparando para entrar no meu ano 5, que segundo a numerologia, era o ano da ousadia, então, quando ele finalmente chegou em março de 2008, eu ousei largar a vida ordinária de São Paulo, para mudar para Austrália, literalmente o fim do mundo. Ousei também aprender uma nova profissão (chef patissiere), reaprender a atravessar a rua (em mão inglesa), lavar roupa em saco de roupa sensível para não estragar, tomar complexo B para não acordar mau-humorada, apreciar chás e infusões, assumir minha espiritualidade e minha humanidade passível de erro e acerto.
Fiz as pazes com o meu corpo, com as sardas do meu rosto e agradeci por ter nascido brasileira. Aprendi sobre alimentação orgânica e sobre uma vida saudável e também a comer porcarias com gosto e sem culpa. Aprendi que comida foi feita para nutrir não só o corpo mas também a alma, para fazer as pessoas mais felizes e que nossa relação com comida diz muito mais sobre nós do que julgamos estar exposto. Aprendi que a natureza cura e que pessoas precisam de pessoas.Eu me permiti experimentar o novo: pulei de paraglider na Nova Zelândia, decorei meu quarto de branco, reuni amigos para comer, aluguei meu primeiro apartamento, chorei de solidão, me refiz, caminhei, caminhei e caminhei, fui para a praia numa terça-feira ensolarada, cabulei aula so pelo simples fato de estar de saco cheio, senti nostalgia, presenciei meu melhor amigo assumir a homossexualidade e senti dor, presenciei meu melhor amigo começar a namorar meu outro amigo e senti ciúme, cozinhei para o ex-chefe do namorado do meu melhor amigo e quis comê-lo vivo, fiz planos sobre voltar, fiz planos sobre ficar, sonhei, comprei uma versão do kama sutra para mulheres e gastei dinheiro com revistas femininas e livros de culinária que eu nunca compraria no Brasil, desenhei retratos em carvão, tomei meu primeiro vinho de sobremesa e gostei, tomei uma garrafa de tequila com meus amigos jogando verdade ou desafio, perdi várias vezes e por isso, mandei uma mensagem obscena para um cara da escola, admiti defeitos,comi comida indiana, comi comida persa, comi comida coreana, comi comida paquistanesa, comi comida taiwanesa, comi comida filipina, fiz amizade com uma filipina obstinada, fiz amigos companheiros, me reconciliei com outros amigos, morei com 10 flatmates numa mesma casa caindo aos pedaços, vi cangurus e koalas, dei consultas espirituais, tratei de pessoas, vendi dua pinturas, ganhei uma família diferente da que eu imaginava e nada aconteceu de maneira convencional, da maneira como mostram os filmes. Não foi uma história de filme, mas digna de um livro. A jornada continua e eu continuo a escrever...